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O ano novo não existe

Fogos celebrando o que mesmo? A mudança nem sempre precisa ser pensada ou racionalizada, pode ser um simples dobrar de esquina na direção contrária. A cultura ocidental se baseia bastante na ideia evolutiva de que hoje somos melhores que ontem e amanhã seremos melhores que hoje. Logo, marcamos a semana de um jeito que soe progressiva e construímos narrativas internas em termos da jornada do herói : vida comum, desafio, recusa, aceite, luta final, vitória e retorno renovado para a vida comum. Isso leva as pessoas a se perceberem subindo uma rampa imaginária para uma condição mais sofisticada de si mesmas que o dia anterior. E, mesmo sem esforços ou trabalho pessoal extra, acreditam-se arrastadas por essa correnteza evolucionista. Essa atribuição do tempo como curador de mágoas e transformador de caráter é falha, ainda que muitos acreditem. A velhice resumiria o ícone da vida plena. Se isso é verdadeiro, porque vemos tantas pessoas idosas mimadas, deprimidas, lamentando a vida e sem nen