Há pessoas que sentem muita pena de não terem conhecimento dos segredos do futuro. Eu não. Este mundo atual já é tão rico de promessas, mas também de ameaças, que chego a dar graças a Deus por estes 90 anos já cumpridos. Por que as dezenas são importantes, a gente não sabe muito bem. Mas sempre procuro dar uma explicação a cada dezena de anos que completo. Desde os 50. Talvez seja uma maneira de fugir ao impulso natural de negar a idade quando ela nos parece excessiva. Talvez uma defesa também: se eu proclamo a minha idade ninguém se interessará em alegá-la contra mim. Cinquenta, 60, 70, 80 e agora estes antipáticos 90. Não estou achando a menor graça: e lá dentro do meu coração, eu sinto que estes 90 anos são uma injustiça imerecida. A gente devia ter o direito de escolher a sua idade. Por exemplo, quando tenho no colo meu bisneto Pedro, que é um irreprimível aventureiro, sinto que o entendo, partilho das suas brincadeiras, me arrisco pelos caminhos que ele sugere. E realmente, com Pe