Por que o clichê mais repetido de 2020 é uma falácia perigosa? Dizer que a expressão “ novo normal ” é um clichê de sucesso é dizer o óbvio, mas isso mal começa a dar conta dela. Os chavões, os lugares-comuns, as frases feitas não são todos iguais —pelo contrário, compõem uma fauna variada e interessantíssima. “Novo normal” é um bicho peçonhento, mas clichês não são vilões em si. Todos carregamos no bolso essas moedinhas verbais, expressões cristalizadas que trocamos no dia a dia. Na maior parte das vezes, nem nos damos conta disso. Nossas chuvas fortes tendem a ser torrenciais, o toque do craque adora ser sutil, os ânimos ficam logo exaltados, suamos em bicas, às vezes somos acometidos de curiosidade mórbida e sempre valorizamos o sucesso avassalador e a ascensão meteórica. Clichezentos somos —pura e simplesmente. O filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955) chamou os lugares-comuns de “bondes do transporte intelectual”. Gosto dessa imagem dos chavões como malha de transporte