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Livros e memórias no lixo

Os livros da atriz Tetê Medina foram jogados assim na rua. Numa esquina qualquer do Jardim Botânico. Um lixo sem memória.
As coisas são coisas quando morremos. Elas podem ou não ter memória, podem ou não ter significados para quem fica. Podemos rapidamente ser esquecidas e essas coisas ficarem como mementos.
Mas a cena dos livros nos faz sofrer. Ao menos, a mim é inquietante. Os livros, esses companheiros de solidão e prazer, assim ali, largados no chão. Talvez os livros devessem ser como as outras coisas da pessoa morta —uma meia usada, uma cafeteira, um lençol puído. Só que não são.

Com os livros, em particular aqueles que nos transportam para outras vidas e sentidos, nos transformamos, assim parece que os livros são como parte de nossa intimidade largada e exposta na rua. Como se fosse, perdoem o exagero, um pedaço da carne exposta.
Não faço qualquer julgamento sobre os que lançaram os livros ao chão —há falta de espaço, não são todos que gostam de ler ou que consideram os livros algo diferente de uma televisão (talvez a televisão seja mais cobiçada como herança). O comentário é mais sobre mim, ou todas nós que gostamos de livros e leitura: imaginá-los espalhados, desapegados da memória.

@jornaloglobo

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