Café Filosósfico de 19/04/2023
Hélia Borges é psicanalista, membro do Grupo Brasileiro de Pesquisa Sandor Ferenczi (GBPSF); Doutora IMS/UERJ; Pós Doutora PUC/SP; Professora da Graduação e do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Dança Angel Vianna. Livros publicados: O movimento, o corpo e a clínica. A clínica contemporânea e o abismo do sentido. Sopros da pele, murmúrios do mundo. No mundo contemporâneo, a corrida desenfreada por modelos neoliberais de vida implica a percepção de que envelhecer se torna fracasso e perda. Deste modo a dificuldade em lidar com a metamorfose que se produz nesta etapa de vida, etapa em que se evidenciam processos de degradação e fragilização do corpo, resulta na inaptidão em se deixar afetar pela sabedoria que acompanha esse momento da vida e usufruir da riqueza própria do envelhecer. Em resistência a tais reduções motivadas por perspectivas colonizadoras é urgente ativar a experiência singular que nos compõe, dando voz ao desejo ao entendendo o corpo envelhecido como potência vital presente. Na direção do desejo, as práticas que buscam sustentar o modo de ser de cada qual, é possível acessar estados de criação como parte ativa da existência. Esse permanente devir-outro opera transformações e não tem volta. Somos seres híbridos, nos misturamos com o mundo, incessantemente. O filósofo camaronês Achille Mbembe, apontando questões colonialistas, nos diz que as biopolíticas características do estado moderno se constituem, na atualidade, pelo que denomina brutalismo: são políticas que atingem o corpo em sua intimidade suscitando a alienação de si, morte em vida. As metamorfoses são experiências constatáveis no percurso existencial da vida. Nos atravessamentos vividos que caracterizam os processos de subjetivação, o tornar-se sujeito se corporifica através dos múltiplos encontros que realizamos ao longo da nossa existência. São eles que produzem os estados de metamorfoses.
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