A população em idade ativa aumentou o percentual até aproximadamente 2020 e terá redução no restante do século. Os idosos vão superar os jovens em 2030 e serão 4 em cada 10 brasileiros em 2100
O Brasil comemorou os 100 anos da Previdência no dia 24 de janeiro. O marco principal da
Previdência Social brasileira é a Lei Eloy Chaves de 1923, com o Decreto
Legislativo 4.682/1923, de 24/01, que criou as Caixas de Aposentadoria e
Pensões (CAP), inicialmente voltadas apenas às empresas de estradas de ferro.
A Lei Eloy Chaves não foi uma dádiva vinda do Congresso, mas o
resultado de muita luta dos trabalhadores ferroviários que eram a categoria
mais mobilizada e mais forte da República Velha. Após essa conquista, outras
categorias conseguiram criar as suas próprias CAPs, como os portuários e os
trabalhadores da navegação marítima e aviação.
No governo Getúlio Vargas, na década de 1930,
foram criados os Institutos
de Aposentadorias e Pensões (IAPs) que
passaram a cobrir as categorias profissionais, como os industriários atendidos
pelo IAPI. Na década de 1960 foram unificados as CAPs e os IAPs. Em 1966, as
iniciativas anteriores foram unificadas no Instituto Nacional de Previdência
Social (INPS). Mas a grande ampliação ocorreu após a Constituição de 1988 e a
criação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O número de beneficiários da previdência
cresceu muito nestes 100 anos. Eram 235 mil em 1945. Mais de 12 milhões em
1990. Pouco mais de 24 milhões em 2010 e 37,6 milhões em 2023. E o número tende
a crescer muito mais no restante do século em decorrência do processo de
envelhecimento populacional.
Mas o cenário mudou e continua mudando como mostra o gráfico .
Em 2023, a população brasileira passou para
215 milhões de habitantes (segundo as projeções da ONU), sendo 43 milhões de
jovens (representando 20% do total), 141 milhões de pessoas de 15 a 59 anos
(representando 65% do total) e 33 milhões de idosos (representando 15% do
total). Para 2100, as projeções da ONU indicam 185 milhões de habitantes, sendo
23 milhões de jovens (representando 13% do total), 88 milhões de pessoas de 15
a 59 anos (representando 48% do total) e 73 milhões de idosos (representando
40% do total). Portanto, haverá uma enorme transformação da estrutura etária
brasileira.
Evidentemente, estas mudanças na estrutura etária
já dificultam o financiamento e a sustentabilidade do sistema previdenciário
brasileiro, mas a profundidade e a velocidade do envelhecimento populacional
serão ainda mais desafiadores nos próximos 77 anos.
A razão de suporte da previdência era de mais de 13 pessoas em idade ativa para cada idoso em 2023. Atualmente, está em cerca de 4,4 pessoas em idade ativa para cada idoso de 60 anos e mais de idade. Mas em 2100 serão apenas 1,2 pessoas em idade ativa para cada idoso, conforme mostra o gráfico.
O fato é que a fase mais propícia do 1º bônus demográfico já passou. O Brasil tem somente algo como 15 anos para colher os frutos da janela de oportunidade demográfica. O 1º bônus demográfico é temporário, ou seja, tem momento de início (por volta de 1970) e momento de término (pouco antes de 2040).
Contudo, nem tudo está perdido, pois ainda
existem dois outros dividendos, o 2º bônus demográfico (o bônus da
produtividade) e o 3º bônus demográfico (o bônus da longevidade). Ou seja, a
estrutura etária brasileira vai ficar cada vez mais envelhecida e a população
total começará a decrescer ainda na primeira metade do século XXI.
Mas se o Brasil investir em educação, em
saúde, em uma política de Pleno Emprego e Trabalho Decente, em ciência e
tecnologia, em infraestrutura e em mudança do modo de produção e consumo poderá
colher o 2º bônus demográfico. E se investir no envelhecimento saudável e
ativo, poderá colher os frutos de uma população idosa mais inserida na solução
dos problemas da sociedade brasileira.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. “Transição demográfica,
envelhecimento e a reforma da previdência” Fundação Konrad Adenauer, Rio de
Janeiro, Cadernos Adenauer XIX (2018), nº 2, pp: 79- 101, julho 2018
https://www.kas.de/c/document_library/get_file?uuid=95eb6827-70a2-1978-c051-8a56ad84229c&groupId=265553
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos
da Independência do Brasil e cenários para o século XXI, Escola de Negócios e
Seguro (ENS), maio de 2022. (Colaboração de Francisco Galiza). Acesso gratuito
em: https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf
Entrevista ALVES, JED. Previdência Social
completa 100 anos e especialistas falam de desafios para o futuro, Jornal Hoje,
TV Globo, 24/01/2023
https://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2023/01/24/previdencia-social-completa-100-anos-e-especialistas-falam-de-desafios-para-o-futuro.ghtml
in EcoDebate, ISSN 2446-9394 [ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate com link e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
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