SOBRE A VELHICE: Por oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um processo biológico, eu estou interessado na velhice como um acontecimento estético.
A velhice tem a sua beleza, que é a beleza do crepúsculo. A juventude
eterna, que é o padrão estético dominante em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs. As manhãs têm uma beleza única, que lhes é própria. Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente diferente da beleza das manhãs. A beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa – talvez solitária. No crepúsculo tomamos consciência do tempo.
Nas manhãs o céu é como um mar azul, imóvel. No crepúsculo as cores se
põem em movimento: o azul vira verde, o verde vira amarelo, o amarelo vira
abóbora, o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo – tudo rapidamente. Ao sentir a passagem do tempo nos apercebemos que é preciso viver o momento intensamente.
Tempus fugit – o tempo foge – portanto, carpe diem – colha o dia. No
crepúsculo sabemos que a noite está chegando. Na velhice sabemos que a morte
está chegando. E isso
nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria única.
nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria única.
Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais
ternos...
Rubem Alves
Rubem Alves
Comentário do Blog: Sou fã incondicional de Rubem Alves, como educador e poeta, é na poesia que que emana dos seus textos que saltam os sentimentos verdadeiros.
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