Pesquisa analisa o perfil do comportamento suicida entre jovens
Promovida pela Fiocruz, a pesquisa Violência
autoprovocada na infância e na adolescência identificou 15.702
notificações de atendimento ao comportamento suicida entre adolescentes nos
serviços de saúde, predominando o grupo etário de 15-19 anos (76,4%), do sexo
feminino (71,6%), e raça/cor da pele branca (58,3%), no período de 2011 a 2014.
O estudo revela que a residência foi o local mais frequente dessas ocorrências
(88,5% de 10-14 anos; 89,9% de 15-19 anos), e o meio mais utilizado foi
envenenamento/intoxicação (76,6% e 78%, respectivamente nas idades de 10-14 e
15-19). Quanto às internações decorrentes das tentativas em adolescentes, houve
12.060 registros entre 2007-2016, com predominância do sexo feminino (58,1%) e
maior ocorrência na Região Sudeste (2,7 e 7,0 notificações/100 mil habitantes,
nos grupos de 10-14 e 15-19 anos, respectivamente). Na sexta-feira (10/9), Dia
Mundial de Prevenção ao Suicídio, o Castelo da Fiocruz, assim como outros
monumentos em todo o planeta, foi iluminado de amarelo. Este foi o
sexto ano em que a Fiocruz iluminou o Castelo dessa cor, associada,
no Brasil, à prevenção do suicídio.
Segundo a OMS, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. “É relativamente comum que na adolescência surjam ideias suicidas, pois fazem parte do desenvolvimento de estratégias para lidar com problemas, como o sentido da vida e da morte. Vem a ser um problema quando essas ideias se tornam a única ou a mais importante alternativa.
A intensidade desses pensamentos, sua
profundidade, duração, o contexto em que surgem e a impossibilidade de
desligar-se deles são fatores que determinam a crise suicida. Um suicídio
costuma ser pensado, planejado e antecedido por tentativas. Existem suicídios
por impulso, mas são raros”, explicou a coordenadora da pesquisa, Joviana
Avanci, do Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli da
Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz).
O levantamento, que contou com apoio do CNPq, teve
como objetivo investigar o tema do suicídio e da tentativa de suicídio entre
crianças e adolescentes no país. O estudo parte da análise de dados de Sistemas
de Informação de Saúde e entrevistas em profundidade com 18 adolescentes com
comportamento suicida das cidades de Porto Alegre e Dourados (MS),
identificados por meio da indicação de profissionais de serviços de saúde
de referência do local ou pelas delegacias de polícia das cidades.
Apesar de praticamente não haver estatísticas
sobre o comportamento suicida em crianças no mundo, no período de 2006 a 2017,
foram identificados 58 óbitos de crianças brasileiras decorrentes desta causa,
com a maioria sendo do sexo masculino, de cor da pele branca e com 9 anos de
idade. O enforcamento foi o meio mais utilizado por elas para se matar. As
internações por tentativas de suicídio, no mesmo período, somaram 1.994 casos,
com predominância entre os meninos em todas as regiões do país. No que se
concerne às notificações, a maioria está relacionada a crianças entre 8 e 9
anos de idade, com cor da pele parda e do sexo feminino, com destaque às
autointoxicação. “A evidência de que qualquer comportamento suicida na infância
está fortemente associado com as tentativas ou o suicídio consumado na
adolescência e na vida adulta é uma das principais indicações da necessidade de
prevenção desse comportamento na primeira década da vida”, alerta Joviana.
Dentre os casos entrevistados, a pesquisa mostra
presença significativa de vulnerabilidade no lar, como violências, falta de
cuidado e apoio inter-relacional, que perpassa gerações. As famílias
pesquisadas revelam histórias familiares de rejeições, maus-tratos físicos,
agressões verbais, violência sexual, uso de álcool e drogas. “Há relatos de
agressões físicas, violência psicológica e negligências na família em
praticamente todos os casos pesquisados. É importante ressaltar a ocorrência do
abuso sexual em vários adolescentes e também em gerações anteriores das
famílias, inclusive outras formas de violência”, denuncia o estudo.
Chama atenção da coordenação o fato de que
todos os casos de suicídio e tentativas pesquisados têm uma história pregressa
de suicídio familiar ou envolvendo amigos, colegas, vizinhos ou conhecidos. A
grande maioria dos casos estudados têm histórico de problemas psiquiátricos na
família, com destaque para ansiedade e depressão, inclusive em gerações
anteriores, e praticamente a metade dos adolescentes pesquisados tem familiares
que abusaram do uso de álcool.
Sobre o ato, praticamente todos identificaram
vários motivos disparadores. Entretanto, é recorrente a constatação de que as
motivações para as tentativas entram em um contexto de vida já marcado por
grande mal estar emocional, desafetos, insatisfações e vulnerabilidades.
“Violências e problemas na família, desentendimentos e rompimentos com
namorados, abuso sexual, bullying, abuso álcool e drogas, assalto, pressão
escolar, obesidade e a interação em redes sociais virtuais, como Youtube,
WhatsApp e comunidades especializadas foram expostas”.
Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio 2021
O Dia Mundial da Prevenção do Suicídio (WSPD),
comemorado anualmente em 10 de setembro, é organizado pela Associação
Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP) e endossado pela Organização
Mundial da Saúde (OMS). O evento representa um compromisso global para chamar
atenção para prevenção do suicídio. No Brasil, O Setembro Amarelo marca o mês
dedicado à prevenção ao suicídio. E uma iniciativa do Centro de Valorização da
Vida (CVV), da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de
Medicina.
“O suicídio, as tentativas, ideações, enfim, todo
espectro do comportamento suicida apresenta estatísticas muito preocupantes,
principalmente em algumas faixas etárias. A campanha do Setembro Amarelo é
importante para sensibilizar sobre o tema, além de favorecer a desconstrução do
tabu sobre o comportamento suicida, pois é fundamental cuidarmos das pessoas
que tem ideações e possuem comportamento suicida. É fundamental acolher, ouvir,
ajudar e cuidar”, esclareceu Joviana Avanci.
Fonte: https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisa-analisa-o-perfil-do-comportamento-suicida-entre-jovens
Informe Ensp em
Comentários
Postar um comentário