Pessoas afrodescendentes nos países latino-americanos vivem em condições totalmente desiguais que afetam saúde e bem-estar, mostra estudo da OPAS
As desigualdades para pessoas afrodescendentes incluem taxas mais altas de mortalidade materna e falta de acesso à educação, empregos, moradia adequada e serviços básicos, como água potável e saneamento
Washington, D.C., 3 de dezembro de 2021 (OPAS) – Um novo estudo sobre as populações afrodescendentes em 18 países latino-americanos demonstra que este grupo populacional vive em condições sociais e econômicas dramaticamente desiguais que prejudicam a saúde, informou nesta sexta-feira (3) a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
O estudo "La salud de la población afrodescendiente en América Latina" concluiu que em mais de 80% dos 18 países analisados, as pessoas afrodescendentes vivem com uma ampla gama de desvantagens relacionadas à pobreza, emprego, saúde materno-infantil e falta de acesso a moradia adequada e serviços básicos, como água potável e saneamento.
“Sejamos francos: as iniquidades em saúde enfrentadas pelas pessoas afrodescendentes ocorrem em um contexto de discriminação e racismo institucional, muitas vezes exacerbado pelas desigualdades de gênero”, afirmou a diretora da OPAS, Carissa F. Etienne. “Se manifestam desde os primeiros anos de vida e os riscos à saúde acumulados aumentam com a idade, produzindo diferenças significativas nos níveis de mortalidade e expectativa de vida. Como resultado, diferentes fatores relacionados à discriminação e estigmatização, juntamente com as desigualdades de gênero e desvantagens sociais e econômicas, são responsáveis pelos maus resultados em matéria de saúde das pessoas afrodescendentes”.
Como observamos antes, as profundas desigualdades em saúde enfrentadas por essas comunidades foram ainda mais expostas e exacerbadas pela pandemia sem precedentes de COVID-19, tanto em seus efeitos diretos e indiretos.” – Carissa F. Etienne, diretora da OPAS
O relatório, que analisa dados sobre indicadores socioeconômicos dos 18 países, enfatiza que o acesso limitado à atenção de saúde para pessoas afrodescendentes também se traduz em "altas taxas de mortalidade materna, gravidez precoce e perfis epidemiológicos em que a doença falciforme, doenças crônicas como diabetes e hipertensão e HIV prevalecem.”
Na América Latina, 134 milhões de pessoas se autodeclaram afrodescendentes. O relatório revelou que, em muitos países, as desvantagens são gritantes, por exemplo:
- No Equador, a taxa de mortalidade materna para mulheres afrodescendentes é o triplo da taxa de mortalidade materna geral. Na Colômbia, a taxa para mulheres afrodescendentes é 1,8 vezes maior e, no Brasil, 36% maior.
- No Uruguai, a proporção de pessoas afrodescendentes com acesso limitado à água potável (42%) é quase o dobro da de não-afrodescendentes (24%).
- Nas áreas urbanas da Nicarágua, 81% das pessoas afrodescendentes têm acesso limitado à água, em comparação com 35% dos não-afrodescendentes.
“Estamos vivendo em um contexto de racismo sistêmico contra afrodescendentes”, disse a vice-presidenta da Costa Rica, Espy Campbell Barr, durante o evento de lançamento do estudo. “Por sistêmico, quero dizer que está incluído nas esferas política, econômica, social e cultural e isso quer dizer que então a saúde é incorporada a essa realidade de exclusão racial dos povos afrodescendentes e, claro, dos povos indígenas”.
La Celia A. Prince, chefe de gabinete do secretário-geral Adjunto da Organização dos Estados Americanos (OEA) disse: “Enquanto as pessoas em situação de vulnerabilidade como as afrodescendentes ainda enfrentam invisibilidade e exclusão, ainda vivem na pobreza e não têm acesso à cobertura universal de saúde, o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) permanecerá fora de nosso alcance. Por esta razão, nos unimos ao chamado à ação e inclusão para as populações afrodescendentes vulneráveis.”
O relatório recomendou a melhoria das políticas de saúde pública para povos afrodescendentes incorporando “conhecimentos específicos e práticas ancestrais dos afrodescendentes, o respeito por sua autonomia, cultura e costumes, e a criação de cenários participativos conducentes à igualdade de oportunidades para todos”.
“São questões urgentes que não podem ser adiadas se o objetivo é garantir processos equitativos e inclusivos que garantam o direito à saúde para todas as pessoas afrodescendentes”, constata o relatório.
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