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Envelhecimento e mudanças demográficas na pandemia

 O mundo está envelhecendo, e não são só os países mais ricos. No Brasil, a questão ganha um agravante: enquanto as nações mais desenvolvidas primeiro enriqueceram e depois envelheceram, o Brasil está envelhecendo em meio à pobreza, alerta Alexandre Kalache. O médico e presidente do Centro Internacional de Longevidade no Brasil é o mediador do webinário Envelhecimento, mudanças demográficas e pandemia, do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), nesta quarta-feira (1º/9), que mostra o impacto da Covid-19 na questão. 

Não é possível falar sobre o impacto da pandemia nas mudanças demográficas sem falar antes em longevidade e envelhecimento da população. “A França levou 145 anos para dobrar a proporção de idosos de 10% para 20%, esse envelhecimento nos séculos 19 e 20 levou sete gerações. O Brasil vai dobrar esse índice em 19 anos, até 2030, ou seja, em uma geração”, observa Kalache. “Isso acontece em menos tempo e num contexto de pobreza”. 

A intenção é mostrar como esse tema afeta o mundo. Amal Abou Rafeh, chefe do Programa de Envelhecimento do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, vai dar uma visão global do problema. Paulo Saad, diretor do Centro Latino-Americano e Caribenho de Demografia (Celade-Divisão de População da Cepal), enfocará a situação na região. Ana Amélia Camarano, coordenadora de Estudos e Pesquisas de Igualdade de Gênero, Raça e Gerações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vai falar sobre o tema no Brasil. Margaret Gills, copresidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade (ILC), por sua vez, abordará a Sociedade Civil rumo à Convenção da ONU sobre Direito das Pessoas Idosas. 

“Um ativista velho”  - Aos 75 anos, Kaleche se considera “um ativista velho”, ressaltando ser “maravilhoso envelhecer”, mas ciente dos seus direitos e da necessidade de lutar por eles. Ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial da Saúde (OMS), ele destaca que em 2011 o Brasil tinha 10% de sua população idosa, uma porcentagem que deve saltar para 20% em 2030 e 30% em 2050, no que descreveu como “um envelhecimento galopante”. “Em torno de 2040, a previsão é de que a população brasileira chegue ao pico e então comece a cair. Isso nunca aconteceu num país em desenvolvimento”, disse o gerontólogo, que também é co-diretor da Age Friendly Foundation. 

A Covid-19 ressaltou as desigualdades em relação à idade. Kaleche calcula que a expectativa de vida tenha se reduzido em um ano entre os mais ricos, e de três a quatro anos entre os mais pobres, que não têm condições de se preparar para uma velhice saudável. 
 
Impacto da Covid-19 nas famílias  - Além disso, a maior parte das vítimas da doença se encontra entre os idosos. Em muitos municípios brasileiros, a pensão dos aposentados era a principal fonte de renda da casa. Diante da pobreza e do desemprego, as mortes dessas pessoas lançaram muitas famílias na miséria. “No seminário, vamos fazer uma radiografia do mundo, dar um zoom na América Latina e um zoom ainda maior no Brasil”, conta Kaleche. “Há dados indicando que cerca de R$ 4 bilhões deixaram de entrar em municípios mais pobres com as mortes por Covid de pessoas majoritariamente mais velhas”, observa. 

A situação jogou o Brasil de volta ao mapa da fome, o que Kaleche descreve como o paradoxo de um país exportador de alimentos que não consegue alimentar seu próprio povo. 
Diante do agravamento da situação com a pandemia, onde pessoas idosas com comorbidades ficaram mais vulneráveis, Kaleche ressalta a necessidade de garantir os direitos dessa parcela cada vez maior da população - um assunto que deve fechar o seminário. Para isso, o webinário destacará a necessidade de uma convenção específica sobre o direito das pessoas idosas, um assunto que começou a ser discutido há cerca de dez anos na ONU, mas que segundo Kaleche esbarra na oposição dos países mais ricos, que temem um aumento nos custos com sua população mais velha. 
 
“Fui um ativista na juventude e sou um ativista agora”, diz. “Em 2070, mais pessoas estarão celebrando 80 anos do que crianças estarão nascendo. É preciso investir em saúde, conhecimento [para continuar como força de trabalho], direitos e seguranças para que o idoso não fique desamparado. É preciso que ele tenha comida, um teto, dinheiro para os remédios. A pirâmide está se invertendo e é preciso envelhecer bem”, conclui. 

EM 31/08/2021 Por: Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias)
Fonte: https://portal.fiocruz.br/noticia/seminario-aborda-envelhecimento-e-mudancas-demograficas-na-pandemia

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