Pular para o conteúdo principal

1,5 milhão de crianças perderam pais ou responsáveis para a Covid-19

Estudo publicado no "The Lancet" estima que, para as crianças e jovens, metade das mortes pela doença resulta na perda de pais, mães, avós ou outros cuidadores

Em novo estudo publicado em julho no periódico The Lancet, cientistas estimam que mais de 1,5 milhão de crianças perderam pelo menos um dos pais, avós ou outro responsável devido à Covid-19. O número gera preocupação entre especialistas, que associam a perda a um maior risco de efeitos sobre sua saúde, segurança e bem-estar.


A estimativa inclui cerca de 1 milhão de pequenos que vivenciaram a morte de um ou ambos os pais durante os primeiros 14 meses de pandemia — até o final de abril de 2021 —, enquanto mais meio milhão de crianças e adolescentes perderam um dos avós, outro parente responsável ou uma das pessoas que tinham sua custódia. “Para uma em cada duas mortes por Covid-19 no mundo, uma criança é deixada para trás ao encarar a morte de um pai ou mãe ou cuidador”, diz Susan Hillis, do Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) e uma das autoras do estudo, em comunicado enviado à imprensa.

 

Hillis faz menção às mais de 3 milhões de mortes já causadas pelo novo coronavírus ao redor do mundo, estatística incluída no modelo matemático usado pelo estudo que contou com pesquisadores da África do Sul, Dinamarca e Reino Unido, além dos EUA. Com métodos semelhantes aos desenvolvidos por um grupo de estimativas e projeções do Unaids (programa das Organização das Nações Unidas para o combate à Aids), os cientistas basearam-se em dados de mortalidade por Covid-19 de 21 países que, juntos, englobam 77% do total global de óbitos causados pela doença. O período de registros utilizado foi entre 1º de março de 2020 a 30 de abril de 2021.


A equipe associou as taxas de mortalidade aos índices de fertilidade observados nos mesmos 21 países para chegar à estimativa dos filhos que as pessoas deixaram. A morte de ambos os pais também foi verificada para que as crianças não fossem contabilizadas duplamente.


O modelo matemático projetou os achados para o resto do mundo e a análise incluiu avós e outros parentes que vivem com crianças, de acordo com estatísticas da ONU sobre composição familiar. O país que mais viu crescer a quantidade de órfãos durante a pandemia foi o Peru: uma a cada 100 crianças perdeu um responsável direto (98.975 no total). Em segundo lugar, a África do Sul teve cinco órfãos a cada 1 mil crianças e, no México, três a cada 1 mil meninos e meninas perderam ao menos um desses parentes. O Brasil ficou na quarta posição, com duas a cada 1 mil crianças tendo ficado órfãs de alguma forma, número que no total ultrapassou 130 mil.


Os pesquisadores alertam para a possibilidade de subnotificação dos casos e, consequentemente, de mortes pela Covid-19, o que poderia revelar uma quantidade ainda maior de novos órfãos. Essas crianças são mais propensas a desenvolver transtornos de saúde mental, pobreza familiar e violência física, emocional e sexual. O desenvolvimento físico, mental e social também pode ser afetado quando elas precisam ser encaminhadas a centros de acolhimento e orfanatos.


Precisamos vacinar os responsáveis ​​pelas crianças — especialmente os avós. E precisamos reagir rápido porque a cada 12 segundos uma criança perde seu responsável para a Covid-19”, afirma a professora Lucie Cluver, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul.


Além de informar, a pesquisa funciona como um chamado a ações para transformar as perdas de pais e cuidadores de crianças em respostas que reduzam esses impactos. “Nossos achados destacam a necessidade urgente de priorizar essas crianças e investir em programas e serviços que as protejam agora e continuem a dar suporte a elas no futuro — porque a orfandade não vai embora”, complementa Hillis.

Fonte: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2021/07/15-milhao-de-criancas-perderam-pais-ou-responsaveis-para-covid-19.html

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Dente-de-Leão e o Viva a Velhice

  A belíssima lenda do  dente-de leão e seus significados Segundo uma lenda irlandesa, o dente-de-leão é a morada das fadas, uma vez que elas eram livres para se movimentarem nos prados. Quando a Terra era habitada por gnomos, elfos e fadas, essas criaturas viviam livremente na natureza. A chegada do homem os forçou a se refugiar na floresta. Mas   as fadas   tinham roupas muito chamativas para conseguirem se camuflar em seus arredores. Por esta razão, elas foram forçadas a se tornarem dentes-de-leão. Comentário do Blog: A beleza  do dente-de-leão está na sua simplicidade. No convívio perene com a natureza, no quase mistério sutil e mágico da sua multiplicação. Por isso e por muito mais  é que elegi o dente-de-leão  como símbolo ou marca do Viva a Velhice. Imagem  Ervanária Palmeira   O dente-de-leão é uma planta perene, típica dos climas temperados, que espontaneamente cresce praticamente em todo o lugar: na beira de estrada, à beira de campos de cultivo, prados, planícies, colinas e

‘Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras’ – Manoel de Barros

  Dirigido pelo cineasta vencedor do Oscar, Laurent Witz, ‘Cogs’ conta a história de um mundo construído em um sistema mecanizado que favorece apenas alguns. Segue dois personagens cujas vidas parecem predeterminadas por este sistema e as circunstâncias em que nasceram. O filme foi feito para o lançamento internacional da AIME, uma organização de caridade em missão para criar um mundo mais justo, criando igualdade no sistema educacional. O curta-animação ‘Cogs’ conta a história de dois meninos que se encontram, literalmente, em faixas separadas e pré-determinadas em suas vidas, e o drama depende do esforço para libertar-se dessas limitações impostas. “Andar sobre trilhos pode ser bom ou mau. Quando uma economia anda sobre trilhos parece que é bom. Quando os seres humanos andam sobre trilhos é mau sinal, é sinal de desumanização, de que a decisão transitou do homem para a engrenagem que construiu. Este cenário distópico assombra a literatura e o cinema ocidentais. Que fazer?  A resp

Poesia

De Mario Quintana.... mulheres. Aos 3 anos: Ela olha pra si mesma e vê uma rainha. Aos 8 anos: Ela olha para si e vê Cinderela.   Aos 15 anos: Ela olha e vê uma freira horrorosa.   Aos 20 anos: Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair mas, vai sofrendo.   Aos 30 anos: Ela olha pra si mesma e vê muito gorda, muito magra, muito alta, muitobaixa, muito liso muito encaracolado, mas decide que agora não tem tempo pra consertar então vai sair assim mesmo.   Aos 40 anos: Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu sou uma boa pessoa e sai mesmo assim.   Aos 50 anos: Ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai pra onde ela bem entender.   Aos 60 anos: Ela se olha e lembra de todas as pessoas que não podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo.   Aos 70 anos: Ela olha para si e vê sabedoria, ri

Não se lamente por envelhecer

  Não se lamente por envelhecer: é um privilégio negado a muitos Por  Revista Pazes  - janeiro 11, 2016 Envelhecer  é um privilégio, uma arte, um presente. Somar cabelos brancos, arrancar folhas no calendário e fazer aniversário deveria ser sempre um motivo de alegria. De alegria pela vida e pelo o que estar aqui representa. Todas as nossas mudanças físicas são reflexo da vida, algo do que nos podemos sentir muito orgulhosos. Temos que agradecer pela oportunidade de fazer aniversário, pois graças a ele, cada dia podemos compartilhar momentos com aquelas pessoas que mais gostamos, podemos desfrutar dos prazeres da vida, desenhar sorrisos e construir com nossa presença um mundo melhor… As rugas nos fazem lembrar onde estiveram os sorrisos As rugas são um sincero e bonito reflexo da idade, contada com os sorrisos dos nossos rostos. Mas quando começam a aparecer, nos fazem perceber quão efêmera e fugaz é a vida. Como consequência, frequentemente isso nos faz sentir desajustados e incômodos

A velhice em poesia

Duas formas de ver a velhice. Você está convidado a "poetizar" por aqui . Sobre o tema que lhe agradar. Construiremos a várias mãos "o domingo com poesia". A Velhice Pede Desculpas - Cecília Meireles, in Poemas 1958   Tão velho estou como árvore no inverno, vulcão sufocado, pássaro sonolento. Tão velho estou, de pálpebras baixas, acostumado apenas ao som das músicas, à forma das letras. Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético dos provisórios dias do mundo: Mas há um sol eterno, eterno e brando e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir. Desculpai-me esta face, que se fez resignada: já não é a minha, mas a do tempo, com seus muitos episódios. Desculpai-me não ser bem eu: mas um fantasma de tudo. Recebereis em mim muitos mil anos, é certo, com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras. Desculpai-me viver ainda: que os destroços, mesmo os da maior glória, são na verdade só destroços, destroços. A velhice   - Olavo Bilac Olha estas velhas árvores, ma