Pular para o conteúdo principal

Marina Colasanti, 83 anos - uma companhia agradável

 Marina Colasanti (Asmara, Eritreia, África Oriental, 1937). Escritora, jornalista, artista plástica e tradutora. Uma das grandes autoras femininas da literatura brasileira, destaca-se por suas obras infantojuvenis que abordam questões universais de uma maneira simples e poética que agrada a todos os públicos. Mulher de múltiplos talentos, em sua trajetória trabalha como publicitária, edita e apresenta programas culturais na TV e também traduz grandes autores da literatura universal.

Comentário do Blog: Marina Colasanti nasceu em 26 de setembro de 1937 - (Libriana como eu, desculpem-me.)

Ainda na infância muda-se para Trípoli, na Líbia, e depois para a Itália, onde mora durante 11 anos. Em 1948, transfere-se com a família para o Brasil, onde vive na cidade do Rio de Janeiro. É artista plástica de formação, jornalista de ofício e escritora por paixão. Nascida em uma família de artistas, desde cedo Marina toma gosto pelo desenho e pela literatura, por isso, muitas de suas obras são ilustradas por ela mesma.

Publica seu primeiro livro, Eu Sozinha, em 1968, e, de lá para cá, há mais de 60 títulos nos gêneros poesia, contos, crônicas, livros para crianças e jovens, além de ensaios sobre temas como literatura, o feminino, a arte, os problemas sociais e o amor. A maior parte de sua obra é traduzida para outros idiomas, sendo mais de 20 para o espanhol (com edições na Espanha, Argentina, Colômbia e Cuba), e também para o alemão e o francês. Tem ainda edições portuguesas, o que a torna uma das maiores autoras brasileiras, com reconhecimento e prêmios internacionais como o Portugal Telecom de Literatura 2011.

Sua obra é objeto de várias teses e trabalhos acadêmicos. Muitos de seus livros merecem destaque e já são clássicos da literatura brasileira, em especial da literatura infantojuvenil, recebendo vários prêmios. Uma Ideia Toda Azul (1979), seu primeiro conto de fadas e seu livro predileto, tem dois prêmios. Com a obra Entre a Espada e a Rosa (1986), ganha seu primeiro Jabuti. Breve História de um Pequeno Amor (2013) é seu livro mais premiado (quatro menções). Marina Colasanti é uma das escritoras com mais prêmios no Brasil (em torno de 40): são vários Jabutis; Grande Prêmio da Crítica, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA); de Melhor Livro do Ano, da Câmara Brasileira do Livro; Prêmio da Biblioteca Nacional para poesia; dois prêmios latino-americanos. Torna-se hors-concours1 da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), após ter sido várias vezes premiada por essa instituição, que é referência no país. 

Marina Colasanti enfoca também as questões do feminino e do feminismo em sua obra. Em 1983, realiza uma turnê para fazer contatos com centros de estudos da mulher de diversos lugares do mundo, com entidades feministas e personalidades feministas, a convite do State Departament, dos Estados Unidos. Entre 1985 e 1989 é membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher no Brasil. Participa ativamente de congressos, simpósios, cursos e feiras literárias no país e no exterior. 

Explora também outros formatos literários: ilustra seu livro A Moça Tecelã (2004) com bordados, e, em 2007, grava o CD A Moça Tecelã e Outras Histórias, narrando seus contos pela gravadora Luz da Cidade.

Para a escritora, professora e crítica literária Marisa Lajolo os livros de Marina são difíceis de classificar e não podem ser considerados apenas para crianças e jovens: “Conto? Crônica? Poema em prosa? Só sabemos que seus livros são sempre ótimos! Livros ótimos, que se tecem por procedimentos narrati­vos densos e concentrados, o que parece constituir marca forte da literatura brasileira mais contemporânea.”Mesmo nos livros que têm como tema questões do universo infantil – como Breve História de um Pequeno Amor, que conta a história de uma escritora que encontra um ninho com dois filhotes de pombo, e um deles se vê às voltas com os desafios de crescer e tornar-se independente –, o leitor depara com questões profundas do ser humano, como amor, ciúme, aflição, paciência, saudade, preocupação, orgulho etc.

Uma das características marcantes da obra de Colasanti é justamente tratar de temas universais com uma linguagem acessível, abordando questões complexas com um texto enxuto, mas preciso. A autora não escreve para os outros, mas sempre escreve o que quer, o que espelha “certa coerência de espírito e de vida”3

A crítica literária Eliana Yunes no texto de abertura do livro Como Se Fosse um Cavalo (2012) resume bem o talento de Marina para contar histórias que agradam a todos os leitores: “Marina, de voz mansa e suave, não tem temperamento de fadas dos contos mágicos que leu, mas sob o olhar etíope (...) habita uma pensadora perspicaz de sua própria história e cultura”4

Em 2016, a atriz Vera Holtz (1952) publica em suas redes sociais uma sequência de oito vídeos lendo microcontos de Marina Colasanti que compõem o livro Hora de Alimentar Serpentes (2013). Os vídeos viralizam, tornando a obra da autora mais popular, alcançando o 15º lugar na lista dos mais vendidos na época. 

Marina Colasanti afirma o que deseja quando escreve seus livros. Sua relação com a vida é por meio da escrita. Dessa forma, com uma linguagem simples e temas universais, sua obra emociona o leitor, faz pensar, surpreende.  

Notas:

1. A FNLIJ criou o Hors Concours em 1992 para cada prêmio, para estimular os participantes. É concedido quando o participante já ganhou três vezes na mesma categoria.

2. LAJOLO, Marisa. As muitas Marinas de Marina Colasanti. Jornal da Biblioteca Pública do Paraná, Curitiba, 5 dez. 2017. Disponível em: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/muitas-Marinas-de-Marina-Colasanti. 

3. MARINA COLASANTI, 80 anos. Fala da autora sobre o livro Eu Sozinha. YouTube. 20 jun. 2017. (12min53). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-iOg3WLEWkk. 

4. COLASANTI, Marina. Como se fizesse um cavalo. São Paulo: Ed. Pulo do Gato, 2012.

Fonte: MARINA Colasanti. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa4588/marina-colasanti>. Acesso em: 12 de Jan. 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

Uma das mais importantes escritoras do Brasil completou 80 anos (2017). Marina Colasanti tem diversos de seus livros publicados pela Global Editora, como o fundamental Uma ideia toda azul, Hora de alimentar serpentes e a edição de Melhores Crônicas. Quando era cronista do Jornal do Brasil, um dia ela percebeu: não queria apenas escrever bem, queria pensar bem. Em seus textos, ela prova que conseguiu logo alcançar o que desejava. E a força do pensamento de Marina também está sempre presente nas suas palestras e entrevistas Grupo Editorial Global




Comentários

  1. Que aula!!! Cada vez mais apaixonada pela sua obra e pela sua percepção da vida!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O Dente-de-Leão e o Viva a Velhice

  A belíssima lenda do  dente-de leão e seus significados Segundo uma lenda irlandesa, o dente-de-leão é a morada das fadas, uma vez que elas eram livres para se movimentarem nos prados. Quando a Terra era habitada por gnomos, elfos e fadas, essas criaturas viviam livremente na natureza. A chegada do homem os forçou a se refugiar na floresta. Mas   as fadas   tinham roupas muito chamativas para conseguirem se camuflar em seus arredores. Por esta razão, elas foram forçadas a se tornarem dentes-de-leão. Comentário do Blog: A beleza  do dente-de-leão está na sua simplicidade. No convívio perene com a natureza, no quase mistério sutil e mágico da sua multiplicação. Por isso e por muito mais  é que elegi o dente-de-leão  como símbolo ou marca do Viva a Velhice. Imagem  Ervanária Palmeira   O dente-de-leão é uma planta perene, típica dos climas temperados, que espontaneamente cresce praticamente em todo o lugar: na beira de estrada, à bei...

Os dentes e o contato social

Antônio Salazar Fonseca é membro da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética Crédito: Juliana Causin/CBN. sábado, 19/09/2015, 09:30  'Ausência dos dentes leva à ruptura do contato social', afirma dentista. Antônio Salazar Fonseca explica que a prevenção é fundamental para manter a saúde da boca. Segundo ele, as próteses têm tempo de vida útil, portanto os usuários devem renová-las. http://cbn.globoradio.globo.com/programas/50-mais-cbn/2015/09/19/AUSENCIA-DOS-DENTES-LEVA-A-RUPTURA-DO-CONTATO-SOCIAL-AFIRMA-DENTISTA.htm "É importante que qualquer pessoa visite o dentista de seis em seis meses. Em caso de próteses, elas devem ser reavaliadas a cada dois anos, o que, geralmente, não acontece. Maioria da população não tem dentes naturais Com as próteses, o problema cresce ainda mais. A maioria das pessoas não tem o hábito de fazer a manutenção constante regularmente e, com o passar dos anos, elas vão ficando desadaptadas. "Muitos deixam até de usá-las e acabam ingerindo...

‘Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras’ – Manoel de Barros

  Dirigido pelo cineasta vencedor do Oscar, Laurent Witz, ‘Cogs’ conta a história de um mundo construído em um sistema mecanizado que favorece apenas alguns. Segue dois personagens cujas vidas parecem predeterminadas por este sistema e as circunstâncias em que nasceram. O filme foi feito para o lançamento internacional da AIME, uma organização de caridade em missão para criar um mundo mais justo, criando igualdade no sistema educacional. O curta-animação ‘Cogs’ conta a história de dois meninos que se encontram, literalmente, em faixas separadas e pré-determinadas em suas vidas, e o drama depende do esforço para libertar-se dessas limitações impostas. “Andar sobre trilhos pode ser bom ou mau. Quando uma economia anda sobre trilhos parece que é bom. Quando os seres humanos andam sobre trilhos é mau sinal, é sinal de desumanização, de que a decisão transitou do homem para a engrenagem que construiu. Este cenário distópico assombra a literatura e o cinema ocidentais. Que fazer...

Chapéu Violeta - Mário Quintana

Aos 3 anos: Ela olha pra si mesma e vê uma rainha. Aos 8 anos: Ela olha para si e vê Cinderela. Aos 15 anos: Ela olha e vê uma freira horrorosa. Aos 20 anos: Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair mas, vai sofrendo. Aos 30 anos: Ela olha pra si mesma e vê muito gorda, muito magra, muito alta, muitobaixa, muito liso muito encaracolado, mas decide que agora não tem tempo pra consertar então vai sair assim mesmo. Aos 40 anos: Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu sou uma boa pessoa e sai mesmo assim. Aos 50 anos: Ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai pra onde ela bem entender. Aos 60 anos: Ela se olha e lembra de todas as pessoas que não podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo. Aos 70 anos: Ela olha para si e vê sabedoria, risos, habilidades, sai para o mundo e aproveita a vida. Aos 80 an...

Se puder envelheça

Os poetas tem o dom de saber colocar em palavras coisas que sentimos e não sabemos explicar, quando se trata de velhice as opiniões divergem muito, e como poeta, talvez Oswaldo Montenegro te convença a olhar para o envelhecimento com outro olhar, mais gentil com sua história, mais feliz com seu presente. Leia: “A pergunta é, que dia a gente fica velho? Não vem dizer que ‘aos poucos’, colega, faz 5 minutos que eu tinha 17 anos e fui-me embora de Brasília, pra mim meu primeiro show foi ontem, e hoje eu tô na fila preferencial pra embarcar no avião. Tem um garoto dentro de mim que não foi avisado de que o tempo passou e tá louco pra ter um filho, e eu já tenho netos. Aconteceu de repente, o personagem do Kafka acordou incerto, eu acordei idoso, e olha que eu ando, corro, subo escadas e sonho como antes. Então o quê que mudou? Minha saúde e minha energia são as mesmas, então o quê que mudou? Bom, a unica coisa que eu sei que mudou mesmo foi o tal do ego, a gente vai descobrindo que não...