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1. Minimizar a quantidade de pessoas (e de residências)
A primeira dica é
fazer uma reunião com o menor número possível de pessoas. Idealmente, a
comemoração deve ocorrer só entre quem já vive na mesma residência.
"Temos que
pensar em evitar encontros com muitas pessoas. É momento para encontrarmos
famílias nucleares. Não é momento de fazer grandes encontros de família, com
reuniões com mais de dez pessoas", diz Juliana Lapa, infectologista e
professora da Universidade de Brasília.
ITO,GET IMAGES
Legenda da foto: Celebração do Natal da forma que conhecemos é cenário ideal para propagação da covid
A recomendação é
estar atento não só à quantidade de pessoas, mas também ao número de
residências que serão misturadas. Por exemplo: um encontro entre dez pessoas
tende a ser menos arriscado se cinco moram juntas em uma casa e outras cinco
vivem em outra do que se cada uma das dez pessoas vive em uma casa diferente,
aponta Vitor Mori, membro do grupo Observatório Covid-19 BR e pós-doutorando na
Faculdade de Medicina na Universidade de Vermont (EUA).
O presidente da
Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, destaca o cuidado com os
grupos que têm sido as principais vítimas da covid-19.
"Se possível,
idosos e pessoas com comorbidades — obesos, diabéticos, hipertensos, pessoas
com problemas pulmonares — devem evitar as festas. Claro que também são as
pessoas que estão mais distanciadas e carentes neste momento, mas o ideal é que
elas tomem mais medidas de cuidado do que as demais pessoas."
Lapa diz que, se
for inevitável o encontro com uma pessoa do grupo de risco, uma opção menos
arriscada é fazer um encontro rápido e com distanciamento. "Uma visita
curta, sem fazer ceia, sem tirar a máscara", explica.
2. Muita ventilação
Se for fazer
encontro, que seja em lugar aberto: jardim, laje, quintal, onde as partículas
de vírus vão se dissipar mais facilmente com o vento. Se não houver um ambiente
completamente aberto, a recomendação é fazer em uma varanda. Se a única opção
for dentro de um apartamento, deixe todas as janelas abertas.
Mori diz que tem
havido pouco destaque para a importância da ventilação para minimizar riscos e
dá uma dica caseira para aumentar a circulação de ar em ambiente interno:
colocar um ventilador próximo da janela e de frente para ela. Dessa forma, ele
diz, o ventilador funciona como um exaustor, puxando o ar de dentro e
empurrando para fora do cômodo.
"Gera pressão
negativa dentro do cômodo e o ar fresco de outra janela vai entrando",
explica.
Para destacar a
importância de privilegiar ambientes ao ar livre, Mori compara a fumaça do
cigarro, que também é um tipo de aerossol, com as partículas emitidas por uma
pessoa que pode estar infectada.
"Se há uma
pessoa fumando perto de você, mas em espaço aberto, você não sente muita
fumaça, o vento vai dispersar. Mas se você estiver em um ambiente fechado,
mesmo que mantenha distância maior que um metro e meio, se todas as portas e
janelas estiverem fechadas, você vai conseguir sentir cheiro do cigarro e vai inalar
quantidade grande."
Os Centros de
Controle de Doenças dos EUA (CDCs) também recomendam a ventilação como
estratégia para reduzir as partículas de vírus no ar de ambientes fechados.
Mas, em diretrizes recém-atualizadas sobre ventilação,
fazem quatro alertas adicionais sobre o tema:
- Janelas
e portas só devem ficar o tempo todo abertas em locais onde não haja risco
de quedas ou se isso não provocar crises em pessoas asmáticas;
- Ventiladores
não devem gerar fluxo de ar diretamente de uma pessoa a outra, para evitar
a contaminação;
- As
medidas de ventilação não dispensam os cuidados constantes com o
distanciamento social, a higiene das mãos e o uso de máscaras;
- Se
não for possível ventilar bem o espaço, então é preciso reduzir o número
de ocupantes nele.
3. Reduzir a duração
Fazer encontros
mais rápidos é outra sugestão dos especialistas, já que o risco aumenta com
mais tempo de exposição.
"Agrupamentos
prolongados são o grande vilão da transmissão", diz Urbano.
4. Máscara e distanciamento sempre que possível
Os especialistas
concordam em outro ponto: as máscaras devem ser usadas sempre que possível,
retirando apenas na hora de comer ou beber. Além disso, evitar falar alto e
cantar também ajuda na redução de riscos. "Quanto mais forte a fala ou o
canto, mais partículas são expelidas no ar", diz Urbano.
Além da máscara,
outra regra já conhecida segue valendo: manter o máximo de distância possível
para quem não vive na mesma casa.
5. Na hora de comer: rodízio ou mesas separadas
O momento da ceia pode ser o grande vilão, segundo médicos, já que as pessoas geralmente ficam próximas e precisam tirar as máscaras.
É por isso que,
além do cuidado de evitar compartilhar objetos como talheres e copos, a
recomendação é que se faça um rodízio para sentar à mesa na hora de comer.
Por exemplo:
imagine que há um casal que mora em uma casa e os pais de um deles, que vivem
em outra casa. A sugestão, se houver apenas uma mesa, é que os pais comam
primeiro, enquanto os outros ficam afastados e de máscara. Depois, invertem.
Para quem tem mais
espaço, outra opção é montar duas mesas separadas para que cada um dos núcleos
não se misture na hora de tirar a máscara para fazer a refeição.
"É importante enxergar quem está sem máscara como possível disseminador, porque existem os assintomáticos, que nem sabem que estão doentes. Então você tem que presumir que todo mundo ali pode estar transmitindo pra alguém, diz Jaques Sztajnbok, médico supervisor da UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
6. Evitar grandes deslocamentos
Os infectologistas
concordam que viagens devem ser evitadas. Quem decidir fazer deslocamentos
assim, deve priorizar ir de carro, de forma a evitar as aglomerações em
Legenda da foto: Aeroporto nos EUA com pessoas viajando para o feriado de Ação de Graças; especialistas defendem que população evite viagens
7. Antes da festa, atenção redobrada aos sintomas
Fazer uma
quarentena de duas semanas (ou pelo menos de uma) e confirmar estar sem o vírus
com um exame PCR 72 horas antes do encontro ajudam muito a minimizar os riscos.
Além disso, é
essencial ter ainda mais atenção a qualquer sintoma.
"É muito
importante valorizar todos os sintomas neste momento. Muita gente diz 'ah, só
estou com tosse, só estou com o nariz escorrendo'. Se isso não é o seu padrão,
valorize e evite ir. Será uma exposição de alto risco", diz Lapa.
8. Durante a festa, cuidado para não baixar a guarda
Em uma comemoração
regada a álcool, com pessoas há tantos meses privadas de festas, o natural
seria relaxar nas medidas de prevenção ao longo da noite. É aí que mora o
perigo, dizem os infectologistas.
"Na prática,
com o relaxamento das pessoas regado a taças de vinho, as festas de fim de ano
são situações de risco — um risco enorme de termos muitos casos e mortes
desnecessários por covid-19", afirma Estevão Urbano.
"Infelizmente,
temos pessoas perdendo o jogo na prorrogação — estamos perto da vacina.
Precisamos fazer o último terço da caminhada até a vacina. Então precisamos cuidado
para não relaxar neste momento."
9. Encontros virtuais ou sem abraços: a recomendação da OMS
A Organização
Mundial da Saúde (OMS) reforça a ideia de que não há risco zero em festas de
fim de ano — motivo pelo qual famílias e até mesmo governos devem avaliar
seriamente o cenário local e decidir se os benefícios sociais dos encontros
festivos superam o perigo de a covid-19 avançar.
RÉDITO,GETTY IMAGES
Maria Van Kerkhove,
líder técnica da covid-19 na OMS, defendeu que as famílias prefiram reuniões
virtuais neste ano
"Há
(iniciativas) de baixo risco ou alto risco — mas sempre há um risco",
afirmou em entrevista coletiva recente Maria Van Kerkhove, líder técnica da
covid-19 na OMS. Ela defendeu que as famílias prefiram reuniões virtuais neste
ano, uma vez que a maior incidência de transmissões ocorre entre pessoas que passam
muito tempo juntas, em espaços fechados e compartilhando refeições.
"É
incrivelmente difícil porque, principalmente durante as festas, nós queremos
muito estar com a família. Mas, em algumas situações, a decisão difícil de não
ter um encontro familiar é a aposta mais segura".
Também em
entrevista coletiva, seu colega Mike Ryan, diretor de emergências da OMS, disse
que encontros presenciais que ocorrerem nestas festas devem evitar abraços e
demonstrações físicas de afeto.
"É algo
horrível pensar que estamos aqui como a Organização Mundial da Saúde dizendo às
pessoas: 'não abracem umas às outras'. É terrível. (Mas) essa é a realidade
brutal em lugares como os EUA no momento", disse Ryan, citando como
exemplo o país com o maior número de mortes e casos pela covid-19 no mundo, e
onde o vírus continua circulando com força.
10. Avaliar os prós e contras não é fácil, mas é necessário
Os especialistas
consultados pela reportagem entendem que as pessoas estão exaustas das
restrições sociais impostas pela pandemia — e a dificuldade em decidir se vale
a pena ou não se reunir em uma data tão especial quanto o Natal.
"Eu acho que
está todo mundo vivendo essa dúvida (de comemorar as festas com pessoas
idosas)", diz Juliana Lapa. "Esses dias ouvi falar de uma senhora que
não conheceu o bisneto e faleceu sem conhecer. É uma dúvida que a gente tem o
tempo todo."
"No mundo
ideal, em que as pessoas estejam resilientes, não haveria viagens e
aglomerações até haver a vacina. No mundo real, pelo menos temos de seguir as
recomendações" para festas mais seguras, afirma Estevão Urbano.
Por sua vez, Jaques
Sztajnbok, do Emílio Ribas, teme que o descuido nas festas de fim de ano
provoque um "repique brutal" da covid-19 nas semanas seguintes.
"Este fim de ano deveria ser sem os encontros natalinos", argumenta.
"Se não houver
segurança nesses encontros, que não sejam feitos. No fim das contas, o que
interessa é a segurança e a saúde de todo mundo. Quando um familiar diz que o
Natal é muito importante e quer encontrar a avó que não vê há muito tempo, eu
falo: 'tudo bem, mas você quer que ela morra 15 dias depois de uma doença
evitável'?"
*Gráficos feitos pela equipe de Jornalismo Visual
da BBC News Brasil e da BBC News Mundo.
Excelente a maneira como foram esplanadas as dicas. Importantíssimas !!
ResponderExcluirPubliquei só a parte prática do artigo. Gracias pela presença.
ResponderExcluirEu que agradeço.
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