Nem sempre é Alzheimer, pode ser apenas o envelhecimento
O envelhecimento, etapa final do desenvolvimento humano, ocorre de forma individual e singular, dependendo muito dos hábitos de uma pessoa ao longo de sua vida e, claro, do acesso aos serviços e de seu entorno. Logo, esses hábitos e condições são os determinantes para um envelhecimento ativo ou não. É claro, que muitas condições de saúde na ‘velhice’ têm uma influência genética e hereditária, mas, tendo conhecimento destas podemos postergar ao máximo algumas condições de vida futura que podem nos tornar dependentes de cuidados de outras pessoas.
Dentro deste contexto de envelhecimento, algumas condições podem ser consideradas comuns e normais para este processo, não havendo necessidade de maior preocupação, pois são sintomas que fazem parte desta etapa da vida e são caracterizados por lentificação das funções físicas, orgânicas e cognitivas das pessoas. O andar fica mais vagaroso, as funções orgânicas como a digestão ou a respiração ficam mais lentas e a memória apresenta lapsos, que não atrapalham em nada na realização de atividades diárias.
Porém, não podemos desconsiderar que a expectativa de vida da população está aumentando cada vez mais e como a população está vivendo mais, aumenta também os casos de diagnósticos de Alzheimer, por ser uma doença que acomete em maior número pessoas idosas. Existe uma estimativa de que a cada três segundos, uma pessoa desenvolve demência, a principal delas, Alzheimer, e, que, 131,5 milhões de pessoas estarão convivendo com demências em 2050, 68% em países de baixa e média renda.
Embora haja uma grande divulgação de informações sobre a doença, de cada três pessoas, duas alegam não ter conhecimento suficiente sobre o Alzheimer.
O principal sintoma divulgado e que sinaliza uma possível Doença de Alzheimer está relacionado à memória, porém já é sabido que outros sintomas – além da perda de memória – são indicativos de algo não está bem. Entre eles estão as alterações de humor e comportamento, dificuldades com linguagem e de orientação no tempo, perda do paladar, repetição do mesmo assunto.
É importante saber diferenciar esses sintomas, principalmente, levando em consideração o que faz parte do envelhecimento considerado normal daquele que é patológico.
A perda de memória como o próprio nome diz é uma perda e, embora haja estímulo, ela não volta ao seu estado anterior de funcionamento, ou seja, não volta a ser como antes. Na Doença de Alzheimer ocorre a perda de memória para fatos recentes, aquilo que acabou de acontecer a poucos segundos ou minutos e que acaba por atrapalhar a aprendizagem de coisas novas. Com o avanço da doença, a perda de memória atinge os fatos antigos da vida fazendo com que a pessoa com Alzheimer possa esquecer ou não reconhecer seus familiares.
Com relação à memória, é importante que possamos sinalizar que, no envelhecimento considerado normal, espera-se que ocorra a lentificação de algumas funções, porém, elas não atrapalham a execução de atividades de vida básica diária e nem instrumental. Os lapsos de memória nesta fase da vida e, em qualquer outra são absolutamente comuns e normais, pois estão atrelados a diversos fatores como estresse, insônia, depressão, desidratação, uso excessivo de medicamentos entre outros.
As mudanças de humor, comportamento e personalidade e, em alguns casos agressividade, quando falamos de Alzheimer, são considerados comuns visto que a pessoa doente começa a apresentar comportamentos inadequados como perda da inibição ou, sintomas psiquiátricos como delírios e alucinações. O normal para o envelhecimento considerado natural é que pessoas possam adquirir vícios e manias, tornando-se intolerantes a certas quebras de rotina, nada que se compare aos comportamentos inadequados do Alzheimer.
As dificuldades com a linguagem ocorrem no processo de envelhecimento e são consideradas comuns, pois, esquecer-se de uma ou duas palavras ao longo de uma conversa desde que não atrapalhe a fluência desta e não impeça de ser compreendida faz parte desta etapa da vida. É importante salientar que a perda da audição no processo de envelhecimento, principalmente nos homens, pode acabar por atrapalhar na compreensão de algumas palavras durante a conversa.
Já na Doença de Alzheimer, a pessoa acometida começa a apresentar dificuldades no vocabulário bem como em manter uma conversa, atrapalhando-se em dizer algumas palavras e, em muitos casos, não conseguindo continuar o que estava dizendo. Esta dificuldade se estende para a leitura e escrita.
É de suma importância um diagnóstico o mais próximo possível, pois, existem outras condições de saúde que podem gerar etiologia muito parecida com a Doença de Alzheimer sem ser, como por exemplo, a desidratação. A falta de água no organismo produz sintomas de delírios e alucinações, dificuldades com memória e linguagem, além de fraqueza e confusão mental. Muitas pessoas apresentam esses sintomas e logo são diagnosticadas com Alzheimer, quando, na verdade, não é a doença.
Outra condição existente é a agnosia, ou seja, a incapacidade de reconhecer objetos, sons, pessoas etc.; algumas pessoas que apresentam outras doenças neurológicas apresentam agnosias também, não é uma condição apenas do Alzheimer, mas é um grande indicativo. Consideramos normal não reconhecer algum objeto por conta de distração, porém, logo o mesmo é identificado.
Alterações orgânicas como colesterol e triglicérides elevados, hipotireoidismo, hipertensão arterial, diabetes mellitus, depressão, obesidade, carência de vitaminas, tabagismo e alcoolismo, etc., devem ser investigados, podendo ser às vezes apenas uma alteração orgânica, em outras, fatores de risco para a Doença de Alzheimer. Esses fatores de risco devem ser controlados desde cedo, muito antes dos 50 anos, para que possa postergar o aparecimento dessa condição no futuro.
Não deixando de mencionar que, em alguns casos, a doença não é diagnosticada da forma correta, induzindo o tratamento errôneo como ocorreu com o pugilista Éder Jofre, que foi diagnosticado com Alzheimer e recebeu tratamento, apresentando uma maior deterioração de suas funções. Posteriormente, em uma segunda avaliação, o diagnóstico mais aproximado foi Demência Pugilística, uma demência que ocorre por conta de diversas e inúmeras lesões no cérebro originadas de esportes violentos como o boxe. Ele recebeu tratamento adequado e conseguiu realizar algumas atividades que antes não conseguia. Embora o tratamento seja muito parecido, deve ser individualizado para cada situação.
Por isso, é importante que o diagnóstico da Doença de Alzheimer seja minuciosamente feito por profissional especializado, primeiramente, por exclusão de outras doenças orgânicas que apresentam a mesma etiologia da Doença de Alzheimer, ou seja, os mesmos sintomas; histórico familiar; aplicação de testes e realização de exames para que seja descartada qualquer outra doença. O diagnóstico 100% assertivo não existe, mas, quanto mais próximo chegarmos da classificação melhor estaremos equipados para lidar com a doença.
Quanto antes o diagnóstico for realizado mais tempo teremos para cuidar e tratar.
Por: Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, Pós-graduada em Gerontologia. Aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar. Capacitação em Saúde da Pessoa Idosa. É voluntária na Associação Brasileira de Alzheimer - ABRAz-SP; membro colaborador dos sites Portal do Envelhecimento, Blog Recorda-me e Alzheimer- Minha Mãe tem. E-mail: simonemanzaro@gmail.com
Ótima sua explanação!!!
ResponderExcluirSobre o assunto, recomendo assistir ao filme ONDE ESTÁ ELISABETH ?, com a talentosa atriz inglesa Gkenda Jackson.
Corrigindo: Glenda Jackson
ResponderExcluirGracias, vou sugerir aqui.
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