Longevidade demanda um design diferente da sociedade contemporânea
Na coluna passada, fiz uma provocação bem-humorada sobre ninguém estar velho demais para fazer uma série de coisas em 2020. Brincadeiras à parte, esse é o objeto de reflexão de um número crescente de especialistas. O Centro de Longevidade da Universidade de Stanford, nos EUA, quer criar o que batizou de “novo mapa da vida”, que funcionaria como uma espécie de bússola para aprendermos a navegar nesses mares ainda desconhecidos. E por quê? Porque a perspectiva de chegarmos aos 90 ou 100 anos gera um desafio: o que vamos fazer com nossa existência super estendida? Mariza Tavares
No fim de novembro, Laura Carstensen, diretora do centro de longevidade, escreveu um artigo para o jornal “The Washington Post” no qual foi incisiva: “precisamos de um redesenho da vida”, afirmou, acrescentando que a angústia de não ter como sobreviver e o medo da demência, cada vez mais recorrentes entre idosos, demandam uma intervenção da sociedade. Listei os tópicos que norteiam os estudos para mostrar a abrangência do projeto.
Laura Carstensen, diretora do centro de longevidade da Universidade de Stanford, na Califórnia — Foto: Divulgação
2) Intergeracionalidade: será preciso superar a segregação entre
gerações que ainda perdura. A convivência em casa, no trabalho e em ambientes
de estudo será um fator primordial para o bem-estar de todos.
3) Desigualdades econômicas, educacionais e raciais deverão ser
combatidas para que a longevidade não se restrinja aos privilegiados.
4) O uso da tecnologia: como inserir as pessoas para que todos se
beneficiem de seus aspectos positivos e se conscientizem dos negativos.
5) Foco na infância: a saúde está intimamente relacionada aos estágios
iniciais da vida. Se as crianças vão viver mais de 100 anos, o conceito de
educação terá que mudar. O modelo atual, que encerra a formação do profissional
na universidade, precisa ser revisto, para o desenvolvimento de habilidades
como criatividade, flexibilidade e resiliência.
6) Saúde: o foco deverá ser na prevenção, para que todos permaneçam
saudáveis durante o maior tempo possível. Isso inclui combater a obesidade
(infantil inclusive), fumo e o uso de opioides.
7) Trabalho: o emprego para a vida toda acabou e os trabalhadores terão
que ser treinados continuamente. Já é possível imaginar um cenário no qual uma
pessoa na casa dos 30 anos sai do mercado por uma década para cuidar dos filhos
e depois se dedica a uma nova carreira, sendo comum ter colegas de 70 e 80
anos.
8) Segurança financeira: sistemas de previdência serão cada vez menos
generosos. Educação financeira para saber planejar o futuro será disciplina
obrigatória nas escolas desde cedo.
9) Meio ambiente: aqui a expressão se refere às cidades, que precisarão
investir em sistemas integrados de transporte e moradia acessível. Um modelo
que vem angariando adeptos prevê assistência para os idosos sem que tenham que
se mudar para uma instituição, inclusive convivendo com jovens que se
encarregariam de alguns serviços.
Jornalista, mestre em comunicação pela UFRJ e professora da PUC-RIO, Mariza escreve sobre como buscar uma maturidade prazerosa e cheia de vitalidade.
Fonte:g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2019/12/31/
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