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Os impactos da invisibilidade na vida dos idosos LGBTIs

Grace e Frankie ou Robert e Sol?

Quem conhece a história de Grace e Frankie, personagens de Jane Fonda e Lily Tomlin na série da Netflix, também conhece o drama de seus respectivos maridos, Robert e Sol, que decidem pedir o divórcio de suas esposas para casar um com o outro.

Num exemplo clássico da “vida imitando a arte”, entender o porquê de eles terem demorado tanto tempo para “sair do armário” pode ajudar a compreender a atual geração de idosos LGBT.

Assumindo então que Robert e Sol teriam 80 anos hoje, em 1973 eles tinham 34 anos, quando a Associação Americana de Psiquiatria deixou de considerar a homossexualidade como doença. Além disso, aos 40 anos começaram a ouvir sobre a aids e aos 50 anos muitos de seus amigos começaram a morrer por essa doença.

Para esses dois, e para muitos de seus contemporâneos LGBT, a invisibilidade foi uma maneira encontrada para fugir da discriminação, e, em alguns casos, para sobreviver. Porém, permanecer invisível na terceira idade pode ter consequências danosas em todas as dimensões biopsicossociais relacionadas à saúde.

As memórias e os afetos - A população idosa LGBT encontra-se sob maior risco de desenvolver doenças crônicas como diabetes e hipertensão devido às maiores disparidades de acesso aos serviços de saúde, tanto por questões institucionais quanto sociais e individuais, e é sabido que esses fatores podem aumentar o risco para demências, como a doença de Alzheimer.

Os idosos LGBT que recebem um diagnóstico de algum tipo de demência enfrentam desafios singulares já que a vulnerabilidade associada à estigmatização da idade, da sexualidade e, por vezes, o baixo suporte familiar e a falta de segurança econômica acentuam o impacto das manifestações dos problemas de memória e dificultam a busca por apoio.

Conforme os problemas de memória avançam, a pessoa pode, por exemplo, se esquecer com quem ela se sente confortável em falar sobre sua sexualidade e isso pode ser causa de angústia. Além disso, caso você seja uma pessoa trans, você pode se esquecer de tomar as terapias hormonais habituais ou pode ter memórias apenas do período antes da transição, levantando questões relacionadas à aceitação do próprio corpo.

Fonte: www.cartacapital.com.br/blogs/saudelgbt/

Comentário do Blog: Já tratamos, aqui no Viva a Velhice da tristeza e desumanidade que vem sendo o envelhecimento, independente do sexo, de pessoas LGBTI. Deixo mais este link para um artigo da Folha de São Paulo: www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/, também, um artigo no  Scielo e a dica de um livro.

Saúde e população LGBT: demandas e especificidades em questão  www.scielo.br/scielo.php?

Livro: Diálogos ibero-latino- americanos sobre geografias feministas e das sexualidades (Português) Capa comum – Edição padrão, 1 Janeiro 2017  por Alides Baptista Chimin Junior (Orgs.) Joseli Maria Silva, Marcio Jose Ornat (Autor)

Comentários

  1. Muito oportuno falar sobre a invisibilidade dos idosos LGBTIs. Que eles possam sair da cristaleira (por serem velhos) e do armário (por serem gays) para viver a velhice com a dignidade que merecem.

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  2. Claudia, aqui no Viva a Velhice deve ter uma meia dúzia de artigos com esse tema.
    Vivemos um momento de perdas de conquistas sociais e a invisibilidade está formando um bloco cada vez maior.
    Assim, a velhice LGTBI está cada vez mais distante da visibilidade.
    Anciões e Diversos um título de uma conversa para uma leitura bem interessante.Aqui no Blog.
    Fico sempre muito grata com tua participação, abraço.

    ResponderExcluir

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