Pular para o conteúdo principal

Simone de Beauvoir, a mulher como pilar de si mesma

Imagem Pinterest: Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre, Zélia Gattai e Jorge Amado com Mãe Menininha, em Salvador, Bahia. Foto: Fundação Casa de Jorge Amado (1960).

Hoje, 09 de janeiro, comemora-se o 111º aniversário de Simone de Beauvoir, falecida em 14 de abril de 1986.

Mais de um século após seu nascimento, a filósofa e feminista, que é considerada mãe do feminismo, permanece extremamente atual. Simone escreve em seu livro O Segundo Sexo: "Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade". A busca da mulher pela sua dignidade reconhecida continua, motivo este para suas pautas serem ainda mais pertinentes hoje.

Em suas obras, principalmente em O Segundo Sexo, um de seus livros mais célebres, Simone sempre defendeu a busca da mulher por igualdade entre os sexos. Em uma reflexão, escreve: “Isso é o que caracteriza fundamentalmente a mulher: ela é o Outro dentro de uma totalidade cujos dois termos são necessários um ao outro.” Essa frase tornou-se base do discurso feminista, que fomenta até hoje os levantes na busca de direitos civis das mulheres em todo o mundo.

Simone era uma mulher livre. Não lhe cabia seguir o modelo patriarcal e machista imposto pela sociedade. Com seu companheiro, Jean-Paul Sartre, viveu uma relação aberta baseada no companheirismo e na igualdade. Além disso, revolucionou o comportamento da mulher a partir das suas ações disruptivas, que rompiam com o padrão de “bela, recatada e do lar”.  Simone nunca chegou a se casar legalmente, se envolvia sexualmente com outras pessoas, sem preocupação. Até hoje, sua liberdade incomoda aqueles que acreditam na submissão e na inferioridade do sexo feminino.

Busca pela igualdade - Uma das principais teses de Simone era a de que o trabalho diminuiria a distância entre o homem e a mulher. Hoje, apesar dos avanços, essa desigualdade de gênero permanece. Isso porque, mesmo sendo maioria com diploma de ensino superior no mercado de trabalho, as mulheres ainda recebem menos que os homens, cumprindo a mesma função. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIBGE, mesmo trabalhando mais horas, as mulheres recebem cerca de 24% menos que o salário dos trabalhadores do sexo masculino.

Feminismo hojeAinda no século XXI Simone se faz presente, pois a figura feminina segue sendo agredida, menosprezada e diminuída. Quando a mídia noticia algum caso de estupro e ou violência contra a mulher, é comum ver comentários como os da imagem abaixo.

É um aspecto cultural muito presente que a mulher seja "ensinada" pelo homem de qual é o seu papel, daí a frase "Ninguém nasce mulher: torna-se mulher", trecho do livro 
O Segundo Sexo (1949), que segue embasando o discurso feminista até hoje. O feminismo, segundo a filósofa, tenta romper com esse laço, mostrando que a feminilidade é um espectro amplo, e que esse conceito de "sexo frágil" não se encaixa na mulher moderna e independente que não usa o homem como seu pilar, mas sim a si mesma e suas escolhas.

“Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.” — Simone de Beauvoir

Principais obras: A Convidada (1943); O Sangue dos Outros (1945); O Segundo Sexo (1949); Os Mandarins (1954); Memórias de uma moça bem-comportada (1958); A Mulher Desiludida (1967)


Assista a seguir ao documentário sobre a vida de Simone de Beauvoir:

Nota do Blog: Sem dúvida  que  A velhice A realidade incômoda e A Velhice As relações com o mundo estão entre suas principais obras.Por : Anielle Silva em 08/01/2019 Fonte;www.ihu.unisinos.br/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Dente-de-Leão e o Viva a Velhice

  A belíssima lenda do  dente-de leão e seus significados Segundo uma lenda irlandesa, o dente-de-leão é a morada das fadas, uma vez que elas eram livres para se movimentarem nos prados. Quando a Terra era habitada por gnomos, elfos e fadas, essas criaturas viviam livremente na natureza. A chegada do homem os forçou a se refugiar na floresta. Mas   as fadas   tinham roupas muito chamativas para conseguirem se camuflar em seus arredores. Por esta razão, elas foram forçadas a se tornarem dentes-de-leão. Comentário do Blog: A beleza  do dente-de-leão está na sua simplicidade. No convívio perene com a natureza, no quase mistério sutil e mágico da sua multiplicação. Por isso e por muito mais  é que elegi o dente-de-leão  como símbolo ou marca do Viva a Velhice. Imagem  Ervanária Palmeira   O dente-de-leão é uma planta perene, típica dos climas temperados, que espontaneamente cresce praticamente em todo o lugar: na beira de estrada, à beira de campos de cultivo, prados, planícies, colinas e

‘Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras’ – Manoel de Barros

  Dirigido pelo cineasta vencedor do Oscar, Laurent Witz, ‘Cogs’ conta a história de um mundo construído em um sistema mecanizado que favorece apenas alguns. Segue dois personagens cujas vidas parecem predeterminadas por este sistema e as circunstâncias em que nasceram. O filme foi feito para o lançamento internacional da AIME, uma organização de caridade em missão para criar um mundo mais justo, criando igualdade no sistema educacional. O curta-animação ‘Cogs’ conta a história de dois meninos que se encontram, literalmente, em faixas separadas e pré-determinadas em suas vidas, e o drama depende do esforço para libertar-se dessas limitações impostas. “Andar sobre trilhos pode ser bom ou mau. Quando uma economia anda sobre trilhos parece que é bom. Quando os seres humanos andam sobre trilhos é mau sinal, é sinal de desumanização, de que a decisão transitou do homem para a engrenagem que construiu. Este cenário distópico assombra a literatura e o cinema ocidentais. Que fazer?  A resp

Poesia

De Mario Quintana.... mulheres. Aos 3 anos: Ela olha pra si mesma e vê uma rainha. Aos 8 anos: Ela olha para si e vê Cinderela.   Aos 15 anos: Ela olha e vê uma freira horrorosa.   Aos 20 anos: Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair mas, vai sofrendo.   Aos 30 anos: Ela olha pra si mesma e vê muito gorda, muito magra, muito alta, muitobaixa, muito liso muito encaracolado, mas decide que agora não tem tempo pra consertar então vai sair assim mesmo.   Aos 40 anos: Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu sou uma boa pessoa e sai mesmo assim.   Aos 50 anos: Ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai pra onde ela bem entender.   Aos 60 anos: Ela se olha e lembra de todas as pessoas que não podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo.   Aos 70 anos: Ela olha para si e vê sabedoria, ri

Não se lamente por envelhecer

  Não se lamente por envelhecer: é um privilégio negado a muitos Por  Revista Pazes  - janeiro 11, 2016 Envelhecer  é um privilégio, uma arte, um presente. Somar cabelos brancos, arrancar folhas no calendário e fazer aniversário deveria ser sempre um motivo de alegria. De alegria pela vida e pelo o que estar aqui representa. Todas as nossas mudanças físicas são reflexo da vida, algo do que nos podemos sentir muito orgulhosos. Temos que agradecer pela oportunidade de fazer aniversário, pois graças a ele, cada dia podemos compartilhar momentos com aquelas pessoas que mais gostamos, podemos desfrutar dos prazeres da vida, desenhar sorrisos e construir com nossa presença um mundo melhor… As rugas nos fazem lembrar onde estiveram os sorrisos As rugas são um sincero e bonito reflexo da idade, contada com os sorrisos dos nossos rostos. Mas quando começam a aparecer, nos fazem perceber quão efêmera e fugaz é a vida. Como consequência, frequentemente isso nos faz sentir desajustados e incômodos

A velhice em poesia

Duas formas de ver a velhice. Você está convidado a "poetizar" por aqui . Sobre o tema que lhe agradar. Construiremos a várias mãos "o domingo com poesia". A Velhice Pede Desculpas - Cecília Meireles, in Poemas 1958   Tão velho estou como árvore no inverno, vulcão sufocado, pássaro sonolento. Tão velho estou, de pálpebras baixas, acostumado apenas ao som das músicas, à forma das letras. Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético dos provisórios dias do mundo: Mas há um sol eterno, eterno e brando e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir. Desculpai-me esta face, que se fez resignada: já não é a minha, mas a do tempo, com seus muitos episódios. Desculpai-me não ser bem eu: mas um fantasma de tudo. Recebereis em mim muitos mil anos, é certo, com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras. Desculpai-me viver ainda: que os destroços, mesmo os da maior glória, são na verdade só destroços, destroços. A velhice   - Olavo Bilac Olha estas velhas árvores, ma