Em entrevista exclusiva, bióloga que descobriu a base molecular do envelhecimento conta quais hábitos influenciam na integridade das nossas células
A gente entrega o avançar da idade por meio de rugas, cabelos brancos, juntas emperradas… Pois nossas células acusam o mesmo quando se observam seus telômeros. Telômeros são as extremidades dos cromossomos, as estruturas das nossas células onde fica empacotado o DNA. Com os anos, os pezinhos dos cromossomos ficam mais curtos, fenômeno ligado ao envelhecimento e à maior exposição a doenças. As descobertas nesse campo — bem como a identificação da enzima que protege os telômeros, a telomerase — renderam à bióloga americana Elizabeth Blackburn, de 68 anos, o prêmio Nobel de Medicina de 2009.
A professora, que atua na Universidade da Califórnia em San Francisco, nos Estados Unidos, se juntou à psicóloga Elissa Epel, da mesma instituição, para compartilhar os achados científicos que conectam a integridade dos telômeros aos nossos hábitos e à maneira de encarar a vida. O resultado é o livro O Segredo Está nos Telômeros, recém-lançado no Brasil pela editora Planeta.
Na obra, a gente aprende que alimentação, nível de atividade física, saúde mental e até as relações sociais influenciam o comprimento dos telômeros. Dito de outro modo, quem vive refém do estresse e dos maus hábitos tende a ficar com os telômeros mais curtos, algo capaz de comprometer a renovação celular e, por extensão, a qualidade e a expectativa de vida. Por dentro do assunto: O sedentarismo deixa seu corpo 8 anos mais velho
Mais que uma aula de ciência, o livro de Elizabeth Blackburn e Elissa Epel traz testes e desafios para revermos nosso estilo de vida e o jeito que lidamos com as atribulações do dia a dia. E dá uma série de orientações — da escolha dos alimentos a exercícios mentais — para resguardamos nossos telômeros e segurarmos bem firmes em nossas mãos uma das chaves da longevidade.
Aproveitando o lançamento da obra no país, entrevistamos a prêmio Nobel com exclusividade. Aqui ela conta um pouco da receita da vida longa, guardada em nossas próprias células.
SAÚDE: Fica claro, após ler seu livro, que o estilo de vida como um todo está intimamente associado ao comprimento dos telômeros. Mas a gente queria saber: existe algum hábito ou fator (estresse, dieta, atividade física…) que tem maior impacto nessa história?
Elizabeth Blackburn: Eu não posso eleger um único, porque acredito que o que mais influencia ou prejudica nesse contexto é o conjunto de todos esses fatores.
SAÚDE: Como o estresse mental e a ansiedade são capazes de danificar nossos telômeros e encurtar nossa expectativa de vida?
Elizabeth Blackburn: Tanto a ansiedade como a depressão estão ligadas a telômeros mais curtos. E, quanto mais severas elas são, mais curtos são os telômeros. Essas condições extremas do estado emocional têm um efeito no maquinário de envelhecimento das células, que envolve os telômeros, a mitocôndria [organela celular] e processos inflamatórios. Doenças do coração, pressão alta, diabetes, todos esses problemas de saúde tendem a aparecer mais cedo e mais rapidamente em pessoas ansiosas ou deprimidas. A ansiedade é um tema relativamente recente no campo de pesquisas sobre os telômeros. Sabemos que pessoas que vivenciam a aflição de um transtorno de ansiedade tendem a apresentar telômeros significativamente mais curtos. Quanto mais tempo a ansiedade persiste, mais curtos ficam essas estruturas. Mas, a partir do momento em que a ansiedade é resolvida e a pessoa se sente melhor, os telômeros eventualmente retornam ao seu comprimento normal. Esse é um importante argumento a favor da identificação e do tratamento da ansiedade.
Fonte: saude.abril.com.br/ Por Diogo Sponchiato em 6 jul 2017
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