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Aprender a ser velho não é definir marcos

 Aprendendo a ser velho

Se a gente fosse definir marcos para o processo da vida humana, um deles poderia ser a idade cronológica. Ou por períodos vividos: setênios, uma forma bastante conhecida de fases desde a primeira infância até a velhice, ou pela relação muita vitalidade/falência dos órgãos. Mas o que na verdade define nossas mudanças são as percepções internas que buscamos ter, acompanhadas das mudanças externas, que nos levam a  outros modos de estar no mundo.

A passagem da idade madura para velhice é um tabu. A ideia que todos temos é a de que os interesses vão diminuindo e por isso podemos continuar na fase anterior, só que com menos intensidade,  fazendo tudo com mais calma, não se irritando com os esquecimentos , fingindo para os “outros”  que funcionamos perfeitamente, guardando para nós mesmas(os) as dificuldades que vão surgindo. Como o uso obrigatório de  óculos e de sapatos anatômicos.

A velhice é outra vida, ninguém tem que resgatar nada das fases anteriores, e se você não acredita nisso vai ficar tentando recuperar o que realmente não precisa mais. Você não tem ideia do que é bom na velhice, porque foge para o passado. A única coisa que você consegue pensar é no que foi bom antes e se agarra ao que já fez ou que viveu, acreditando que dessa forma você ficará bem. Não fica! Tudo que um dia gostamos e vivemos com intensidade já se esgotou. Menos o amor, pois o amor ao contrario, se renova.

Enquanto a velhice for considerada um estágio humilhante e vergonhoso da vida, vamos lutar contra e tentar fingir que continuamos jovens. Mas o legal é descobrir nossas possibilidades em cada idade e vivê-la com alegria e satisfação. Temos que aprender a ser velhos, esta é a novidade. Nunca fomos velhos antes. Depende de cada um fazer com que a velhice seja também uma grande curtição. Como ter tempo de tomar o café da manhã com calma e depois sair para caminhar. No que se gosta, por necessidade ou prazer, mas livre das pressões competitivas. Segredar alegrias e tristezas com alguns amigos, ter privacidade, roupas confortáveis, um carro, se achar importante, um computador para de vez em quando navegar, descobrir artigos interessantes, olhar e-mail e se atualizar.

Aproveitar as sobras de tempo para ficar também consigo mesmo (se é que você consegue fazer isso sem se angustiar, sem tentar buscar estímulos externos como música, compras, erotismo). Praticar atividades físicas pensando em coisas bonitas que o silencio e a fé fazem emergir. Encontrar pessoas para conversar, na rua, no comercio, no mercado, no salão de beleza, até no bar, trocar ideias e ajudar alguém que aparece pedindo ajuda ou um pouco de atenção.

Escolher melhor os programas de TV, ir ao cinema, fazer uma comida gostosa para você mesmo, tomar uma taça de vinho, ter um animal de estimação, desenvolver um dom, uma atividade artística, um trabalho manual. À nossa volta existem milhões de coisas a serem descobertas. Só vamos saber se as acrescentamos ao nosso pacote de envelhecimento legal se as desfrutarmos. Vamos ser curiosos, vamos desbravar o novo, ao invés de nos apegarmos ao que já era. É bom também, com certa frequência, olhar o mundo e imaginar o “Paralém”,  como diria Mia Couto

 Gláucia Prosdocimi é psicóloga e leitora do BLOG  Novos Velhos

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