Pular para o conteúdo principal

Nora Rónai: braçadas de uma ‘brasileira de coração’

 Um Lugar Chamado Onde

Arquiteta italiana que fugiu do nazismo na década de 40 acumula, aos 90 anos, medalhas de recorde mundial de natação Master no peito, histórias da família, uma saudade apertada de Paulo Rónai, um livro de memórias e um infantil.

Comentário do Blog: Vamos falar de uma atleta e escritora de 92 anos  Nora Ronai. Oportuno no momento em que ainda respiramos esportes em função das olimpiadas e paralimpíadas. Mais uma mulher que muito admiro. Ao final, uma entrevista de Nora Ronai em 2014 no programa do Ronnie Von.

Nora Tausz Rónai  nasceu em Fiume, 29 de fevereiro de 1924 é uma arquiteta, escritora e atleta de natação brasileira. Nascida no território que hoje pertence à Croácia, Nora nasceu numa família de judeus italianos e emigrou para o Brasil em 1941.

Casou-se com o filólogo, tradutor e escritor Paulo Rónai, com quem teve duas filhas, Cora Rónai, jornalista, e Laura Rónai, música e crítica.

Em agosto de 2014, Nora conquistou seis medalhas de ouro no Campeonato Mundial de Masters em Montreal, Canadá.

Também em 2014, Nora lançou dois livros. O primeiro, O Roubo da Varinha de Condão e Outras Histórias, é uma coletânea de contos infantis, baseados nas histórias que contava para suas filhas e netas quando eram crianças. O segundo, Memórias de Um Lugar Chamado Onde, é uma autobiografia, onde narra parte de sua infância na Europa e a vinda de sua família ao Brasil, fugida da guerra.

Destaco um trecho de una conversa de Nora que pode ser lida Aqui

" De volta a Fiume, sua vida foi assolada pelo governo fascista de Mussolini. Como toda criança judia, ela foi impedida de frequentar a escola.

- A justificativa disso era que nós, crianças não arianas, tínhamos a mentalidade corrompida e corromperíamos as outras crianças. Resultado disso: quando saiu essa lei, todas as crianças de Fiume que tinham média acima de 7 tinham que ficar em casa. Eram todas judias. E as arianas, que tinham média abaixo de 7, puderam ir para a escola - recorda, soltando uma risada irônica.

Por teimosia ou desafio, Nora não se curvou à vida iletrada imposta pelo nazismo. Durante cinco anos, teve aulas particulares de francês em casa, com uma professora que, por ser estrangeira, não podia ser impedida de ensinar a quem bem entendesse; e aulas de matemática com o marido de uma prima, um renomado professor que, por não ser fascista, fora desterrado em Fiume ("Era para lá que mandavam quem não interessava ao governo").

- Educação é poder. E eu estudava por picardia, mesmo. Justamente por terem me proibido - explica. - Dá para entender, por essa mentalidade, por que as grandes oligarquias brasileiras continuam a não ter interesse em melhorar o ensino por aqui. Como é uma democracia, são obrigados a dar escolas, mas que não sejam muito boas. Um povo sem educação é mais fácil de ser manipulado.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Dente-de-Leão e o Viva a Velhice

  A belíssima lenda do  dente-de leão e seus significados Segundo uma lenda irlandesa, o dente-de-leão é a morada das fadas, uma vez que elas eram livres para se movimentarem nos prados. Quando a Terra era habitada por gnomos, elfos e fadas, essas criaturas viviam livremente na natureza. A chegada do homem os forçou a se refugiar na floresta. Mas   as fadas   tinham roupas muito chamativas para conseguirem se camuflar em seus arredores. Por esta razão, elas foram forçadas a se tornarem dentes-de-leão. Comentário do Blog: A beleza  do dente-de-leão está na sua simplicidade. No convívio perene com a natureza, no quase mistério sutil e mágico da sua multiplicação. Por isso e por muito mais  é que elegi o dente-de-leão  como símbolo ou marca do Viva a Velhice. Imagem  Ervanária Palmeira   O dente-de-leão é uma planta perene, típica dos climas temperados, que espontaneamente cresce praticamente em todo o lugar: na beira de estrada, à beira de campos de cultivo, prados, planícies, colinas e

‘Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras’ – Manoel de Barros

  Dirigido pelo cineasta vencedor do Oscar, Laurent Witz, ‘Cogs’ conta a história de um mundo construído em um sistema mecanizado que favorece apenas alguns. Segue dois personagens cujas vidas parecem predeterminadas por este sistema e as circunstâncias em que nasceram. O filme foi feito para o lançamento internacional da AIME, uma organização de caridade em missão para criar um mundo mais justo, criando igualdade no sistema educacional. O curta-animação ‘Cogs’ conta a história de dois meninos que se encontram, literalmente, em faixas separadas e pré-determinadas em suas vidas, e o drama depende do esforço para libertar-se dessas limitações impostas. “Andar sobre trilhos pode ser bom ou mau. Quando uma economia anda sobre trilhos parece que é bom. Quando os seres humanos andam sobre trilhos é mau sinal, é sinal de desumanização, de que a decisão transitou do homem para a engrenagem que construiu. Este cenário distópico assombra a literatura e o cinema ocidentais. Que fazer?  A resp

Poesia

De Mario Quintana.... mulheres. Aos 3 anos: Ela olha pra si mesma e vê uma rainha. Aos 8 anos: Ela olha para si e vê Cinderela.   Aos 15 anos: Ela olha e vê uma freira horrorosa.   Aos 20 anos: Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair mas, vai sofrendo.   Aos 30 anos: Ela olha pra si mesma e vê muito gorda, muito magra, muito alta, muitobaixa, muito liso muito encaracolado, mas decide que agora não tem tempo pra consertar então vai sair assim mesmo.   Aos 40 anos: Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu sou uma boa pessoa e sai mesmo assim.   Aos 50 anos: Ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai pra onde ela bem entender.   Aos 60 anos: Ela se olha e lembra de todas as pessoas que não podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo.   Aos 70 anos: Ela olha para si e vê sabedoria, ri

Não se lamente por envelhecer

  Não se lamente por envelhecer: é um privilégio negado a muitos Por  Revista Pazes  - janeiro 11, 2016 Envelhecer  é um privilégio, uma arte, um presente. Somar cabelos brancos, arrancar folhas no calendário e fazer aniversário deveria ser sempre um motivo de alegria. De alegria pela vida e pelo o que estar aqui representa. Todas as nossas mudanças físicas são reflexo da vida, algo do que nos podemos sentir muito orgulhosos. Temos que agradecer pela oportunidade de fazer aniversário, pois graças a ele, cada dia podemos compartilhar momentos com aquelas pessoas que mais gostamos, podemos desfrutar dos prazeres da vida, desenhar sorrisos e construir com nossa presença um mundo melhor… As rugas nos fazem lembrar onde estiveram os sorrisos As rugas são um sincero e bonito reflexo da idade, contada com os sorrisos dos nossos rostos. Mas quando começam a aparecer, nos fazem perceber quão efêmera e fugaz é a vida. Como consequência, frequentemente isso nos faz sentir desajustados e incômodos

A velhice em poesia

Duas formas de ver a velhice. Você está convidado a "poetizar" por aqui . Sobre o tema que lhe agradar. Construiremos a várias mãos "o domingo com poesia". A Velhice Pede Desculpas - Cecília Meireles, in Poemas 1958   Tão velho estou como árvore no inverno, vulcão sufocado, pássaro sonolento. Tão velho estou, de pálpebras baixas, acostumado apenas ao som das músicas, à forma das letras. Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético dos provisórios dias do mundo: Mas há um sol eterno, eterno e brando e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir. Desculpai-me esta face, que se fez resignada: já não é a minha, mas a do tempo, com seus muitos episódios. Desculpai-me não ser bem eu: mas um fantasma de tudo. Recebereis em mim muitos mil anos, é certo, com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras. Desculpai-me viver ainda: que os destroços, mesmo os da maior glória, são na verdade só destroços, destroços. A velhice   - Olavo Bilac Olha estas velhas árvores, ma