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Quem tem medo de envelhecer - Parte 1

"...se qualquer modificação na vida do indivíduo provoca sua reação medrosa, nenhum medo seria mais justificável que o medo da velhice, cujo espectro nos é apresentado desde cedo como aterrador."

Quem tem Medo de Envelhecer é um livro escrito por Magdalena Léa que  nasceu em São Cristóvão, RJ, em 30 de agosto de 1913, filha de José da Silva Barbosa e Maria Coutinho Barbosa. Psicóloga, pintora, escritora de literatura infanto-juvenil, era casada com o Gal. Micaldas Corrêa. Teve cinco filhos, oito netos e doze bisnetos. Lançou em 1978 o livro "Quem tem Medo de Envelhecer?"  Como trovadora premiadíssima e engajada ao Movimento desde o seu início, também editou dois livros: "Trovas Que Eu Vivo a Cantar" e "Trovas Escritas na Areia". Mas o seu primeiro livro foi um romance: "Feia", escrito em 1950, mas que só foi editado, de surpresa, pela família, quando a autora completou 87 anos. Magdalena - pessoa queridíssima no meio trovadoresco, partiu no dia 12 de junho de 2001, coincidentemente na data em que seria o aniversário de seu esposo.

É com  uma alegre e suave ironia que Magdalena dá o tom dos fatos reias e num Clique ela nos diz:

Em sua obra "A Arte de Envelhecer", Mira y Lopez chama a atenção para o impacto do trauma psíquico que constitui a consciência súbita do envelhecimento no indivíduo. Conta sua própria experiência ao ouvir o termo "conservado" que lhe foi dirigido, causando-lhe desagradável impressão, e diz que logo o associou à imagem de sardinhas em lata, múmias em sarcófagos.

Nem todas as pessoas terão sofrido assim um impacto com data marcada, pois o envelhecimento é um processo contínuo e não tem data fixada. Em nossa própria experiência não houve uma data, nem um dito, e sim uma série de ditos e datas que não se fixaram em dias ou horas precisas.

Mas o Mestre relata alguns casos pitorescos a propósito da pesquisa feita por um jornalista parisiense sobre o tema: "Quando se Haviam Sentido Velhos pela Primeira Vez"

Um político diz: "Quando me ofereceram uma cadeira depois de um discurso interrompido pela tosse". Certo cientista respondeu: "Quando tomei em meus braços minha primeira neta." E disse uma artista de cabaré: "Quando meus admiradores começaram a me presentear com jóias falsas." Um artista de cinema, antigo galã, assim informou: "Quando pisquei um olho para uma loura, e ela me ofereceu seu lenço 'para que me tirasse o argueiro'."

Mas um acadêmico assim resumiu: "Quando me elegeram 'imortal'."

Uma amiga nos veio contar, muito desapontada, que vinha pela rua quando ouviu: "bela coroa!" A frase não é nada má, mas ela se pôs entre o bela e o coroa e não sabia se ria ou se chorava.

Esta nossa amiga não tinha filhos, por isso é que o tempo passou sem que ela se desse conta, mas o mesmo não acontece aos casais que têm filhos, pois os jovenzinhos de hoje dão o tratamento de meu velho e minha velha aos pais, mesmo quando o papai ou a mamãe ainda estão na casa dos 30.

Comumente falando ao telefone, a jovem diz aos companheiros:… "Pera aí, vou ver se a velha deixa eu ir…" E a velha em questão é uma bonita jovem e há tão pouca diferença entre ela e a filha que poderiam ser tomadas as duas por irmãs.

Este falso conceito sobre a idade faz os vovôs anunciarem o auspicioso acontecimento que lhes dá o título em dois tons absolutamente distintos: "Já sou avô!" - a voz plena de entusiasmo, fisionomia iluminada por um sorriso de vitória, enquanto o outro é: "Já sou avôôôôôô…" - voz apagada, cara apagada, riso amarelo. Não que lhes seja ruim ser avô, mas é que sê-lo significa já ter idade para isso.

Danton Jobim, na ocasião Diretor-Presidente da ABI e Senador, contou-nos, enriquecendo nosso cabedal de exemplos, como levou um susto, quando, ao nascer o primeiro netinho, alguém lhe deu, pelo telefone, carinhosamente, a auspiciosa notícia:   Você já é vovô!…

É certo que já esperava um neto, mas daí até acostumar-se ao nobre título…

E há aqueles que participam aos amigos:  Minha mulher já é avó!  Há mulheres que preferem dizer: "Minha filha teve um nenê!" Outras ensinam os netinhos a chamarem-nas de titia ou de dindinha. Outras ainda ralham com as crianças, na rua: "Parem com isso! É só gritando vovó, vovó! Que coisa!…"

E a coisa é ela ter idade para ser avó.

Essa leveza de Magdalena em tratar o envelhecimento ficou registrado nesta entrevista concedida a Nelsom Mota:


Comentários

  1. Rubens Guimarães Mendonça15 de janeiro de 2017 às 18:56

    Excelente texto. Realmente o "envelhecer" ainda segue um tabu para alguns; uma barreira que precisa ser enfrentada, mesmo nos dias de hoje, em pleno século 21. No Brasil, onde a transição do processo de envelhecimento vem ocorrendo tão rapidamente, o "ficar velho" precisa se tornar habitual e prazeroso.

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  2. Rubens, bom dia!
    Concordo. Para que o envelhecer seja "prazeroso" entendo que precisamos aprender a envelhecer. Além da nossa forma de viver penso que o Blog com a participação dos leitores com comentários e sugestões é um dos instrumentos de contribuição no exercício do Viva a Velhice.
    Feliz com sua visita. Volte sempre. Um abraço.

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