Não nos desfazemos de equipamentos
úteis a não ser que realmente não sejam mais tão úteis assim, e acabamos por
nos adequar à casa quando ela deveria estar adequada a nós. Mais do que isso,
perdemos a flexibilidade que tínhamos na juventude e o esforço em desviar de
móveis grandes, para abrir gavetas pesadas e alcançar panelas no fundo de um
armário sob a pia da cozinha já prova que alguma coisa deveria ser feita para
não agravar ainda mais esses desconfortos.
Pesquisas na indústria moveleira têm
desenvolvido novos sistemas em ferragens, conexões, revestimentos e materiais
alternativos, de modo a facilitar o manuseio dos móveis. Conseguem tornar ao
mesmo tempo mais leves e práticos, apesar de menos duradouros, a depender do
cuidado durante o uso. A restrição no uso de madeiras e vidros, tanto porque
tornam-se caros pela escassez quanto pela pouca flexibilidade, fez surgir
opções moduladas que permitem uma rápida montagem e a possibilidade de novos
arranjos. Mais ainda: nossas casas estão cada vez menores e precisam ser
compostas com peças móveis que se adaptem em diferentes situações de pouco
espaço, desde que ofereçam alternativas de uso para diferentes funções.
Já encontramos tecidos tratados para
limpeza e que retêm menos poeira, evitando alergias, tanto para cortinas quanto
para estofamentos. Para isso é importante não exagerar em pregas, franzidos e
babados, porque assim se restabeleceria a necessidade de manutenção constante.
Também o uso de painéis e persianas em materiais sintéticos, de lavagem fácil,
pode favorecer a praticidade. Àqueles que desejam manter autonomia mesmo com
mobilidade reduzida, sistemas de controle remoto permitem abrir e fechar
tampões de janelas com facilidade e rapidez, garantindo controle de luz,
insolação e privacidade. No caso de estofamentos e tapetes, desenvolveram-se
tratamentos antichamas que evitam a propagação do fogo, no caso de um cochilo
com o cigarro acesso.
Os rodízios em móveis permitem não só
novos posicionamentos para diferentes leiautes, mas principalmente a
possibilidade de facilitar a limpeza de pisos e paredes com a remoção das
peças. O uso de MDF, chapas alternativas para montagem de móveis, trouxe a
ideia de fragilidade pela leveza e pouca espessura que podem oferecer mas, se
aplicadas corretamente, são muito eficientes e até mais duráveis, pois o
processo de fabricação as torna mais duras e resistentes a cupins, umidade e
deformação. Considerar somente que, se usadas em uma prateleira para livros,
por exemplo, a espessura deve ser pelo menos de 18 mm, dependendo da extensão
sem apoio e do tamanho dos volumes. Estão disponíveis já com revestimentos de
padrões variados, laváveis e resistentes a riscos e arranhões.
Gavetas com corrediças telescópicas
permitem que se abram totalmente, com visualização de todo seu interior. O uso
de gavetas fundas em armários baixos, tais como em balcões de pias de cozinha,
pode organizar panelas de diversos tamanhos, sem “esconder” algumas no fundo,
como acontece quando usamos portas de abrir. Para mantimentos, quando não se
têm prateleiras ou despensas, gavetões são muito práticos e acomodam muito
material. Importante conferir a largura, pois variam de acordo com o peso para
que não se deformem com o uso. Enfim, facilitar é possível, desde que estejamos
dispostos a reformular sem apegos e com vontade de melhorar!
Você usa seus móveis ou eles usam você?
Ambientes em geral são compostos com
diferentes volumes que preenchem espaços. Mesmo em praças e jardins, elementos
construídos compõem-se com outros naturais, formando conjuntos, definindo
caminhos e permitindo a funcionalidade. Em nossas casas também funciona assim,
mas geralmente consideramos que residir em um lugar durante 30 anos garante que
os objetos originais sejam mantidos ou, até mesmo, acrescentemos outros, na sua
maioria equipamentos novos que a tecnologia vai disponibilizando no mercado.
Vejamos o que aconteceu com os
aparelhos de televisão: antes acoplados a móveis, passaram a ser sobrepostos,
mas exigiam uma profundidade razoável em função do tubo de imagem que se
projetava até 50 cm para trás. E as telas aumentaram, e o peso desses equipamentos
igualmente, condenando balcões a servirem como suporte. O aperfeiçoamento
permitiu um novo modo de formação de imagem e, num piscar de olhos, esses
monstros tornaram-se maiores em largura e altura, mas com pouca profundidade e
peso, o que passou a sugerir que fossem presos a paredes, liberando espaços
embaixo. Já não era sem tempo: nossas casas estão cada vez menores!
Assim como vimos com a TV, podemos
repensar nossos móveis: grandes mesas de jantar já não têm a mesma utilidade de
antes, armários com portas largas e grandes profundidades exigem mais tempo
para movimentar as peças que guardam e jogos de sofás acomodam cinco pessoas
com espaço ou sete bem juntinhas. Mas em todas essas situações cabe uma
reflexão que geralmente passa despercebida, porque o tempo voou, a tecnologia
evoluiu e continuamos com os mesmos móveis de antes.
Não nos desfazemos de equipamentos
úteis a não ser que realmente não sejam mais tão úteis assim, e acabamos por
nos adequar à casa quando ela deveria estar adequada a nós. Mais do que isso,
perdemos a flexibilidade que tínhamos na juventude e o esforço em desviar de
móveis grandes, para abrir gavetas pesadas e alcançar panelas no fundo de um
armário sob a pia da cozinha já prova que alguma coisa deveria ser feita para
não agravar ainda mais esses desconfortos. Morar com conforto e segurança
significa pensar em funcionalidade, pois adotar utilidades da casa como
lembranças nem sempre trará experiências positivas: é preferível deixar as
lembranças na memória, lá elas não deterioram e nem atrapalham.
(*)Maria Luisa Trindade Bestetti –
Arquiteta. Pesquisa sobre as alternativas de moradia para idosos no Brasil,
especialmente sobre a habitação mas, também, o bairro e a cidade que a
envolvem. Ser modular significa harmonizar todas as etapas da vida, atendendo
desejos e necessidades. Blog Acesse Aqui
Fonte:http://www.portaldoenvelhecimento.com/acessibilidades/item/3918-como-tornar-os-moveis-da-casa-mais-faceis-e-seguros
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