POR CURSO DA VIDA EM
29 DE JANEIRO DE 2016 DIREITOS
Recentemente, a
finitude da vida foi alvo de repercussões em todo o mundo, em decorrência da
morte do cantor de rock David Bowie por um câncer. Mark Taubert, especialista
em Cuidados Paliativos do NHS (Serviço Nacional de Saúde Britânico) em Cardiff,
Reino Unido, redigiu uma carta endereçada à Bowie, publicada na revista médica
inglesa “BMJ”, em 15 de janeiro. No documento, Taubert traz à reflexão a
terminalidade da vida e o papel dos cuidados paliativos.
Para o médico
geriatra e presidente da Comissão de Cuidados Paliativos da Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Daniel Azevedo, esta discussão
precisa ser escancarada pela sociedade, para que as pessoas reconheçam e
enfrentem o tabu da morte. “Ninguém precisa morrer sozinho. A família pode
fazer muito para confortar a pessoa que se despede da vida e converter a morte
num evento repleto de significados”, avalia.
A essência dos cuidados paliativos
consiste em permitir que a pessoa e seus familiares possam viver plenamente o
tempo que lhe resta.
Tratamento que busca
dar suporte a pessoas com doenças incuráveis, que ameaçam a vida, como alguns
cânceres, por meio do controle da dor e de qualquer sintoma que cause
desconforto, os cuidados paliativos ainda são subutilizados no Brasil. “A
essência dos cuidados paliativos consiste em permitir que a pessoa e seus
familiares possam viver plenamente o tempo que lhe resta. A intenção não é dar
anos a vida, mas sim, vida aos anos. Valorizar o tempo que resta”, relata
Azevedo.
De acordo com o
geriatra, todas as doenças crônico-degenerativas têm indicação de cuidados
paliativos: demência, síndrome de fragilidade, doença renal crônica,
insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica, cânceres e tantas
outras. “Os profissionais precisam reconhecer essa indicação para prestar uma
assistência paliativa adequada às pessoas de quem cuidam, respeitando a
biografia e as preferências de cada uma delas”, enfatiza o geriatra.
Paliação x dificuldade de acesso
No Brasil, existem
fatores que limitam a ampliação da oferta de cuidados paliativos, esclarece o
especialista da SBGG. Segundo ele, a população, de modo geral, desconhece o
objetivo desse tipo de cuidado, reconhecendo-o como um sinônimo de ‘cuidados ao
fim da vida’ quando na verdade esta modalidade terapêutica é bem mais
abrangente e por vezes iniciada alguns anos antes da morte da pessoa. “Ou até
décadas, como no caso de uma demência de progressão lenta”, pontua o
geriatra.
A intenção não é dar anos a vida, mas
sim, vida aos anos. Valorizar o tempo que resta.
De acordo com
levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgado em 2014, os
cuidados paliativos estão ao alcance de apenas uma em cada 10 pessoas.
Atualmente, há apenas 20 países que possuem sistema adequado. O Brasil não faz
parte desse grupo.
“Estes indicadores
revelam que pessoas com doenças incuráveis não têm sintomas adequadamente
tratados. Além disso, são subestimadas as necessidades sociais, psicológicas e
espirituais dessas pessoas e de seus familiares. Trata-se de uma questão de
saúde pública e o mundo passa longe de atingir a meta de uma cobertura mais
ampla”, completa o médico.
O acesso a serviços de cuidados
paliativos e a medicamentos para controle de dor e outros sintomas no ambiente
domiciliar atualmente é limitado em todos os níveis de assistência a saúde.
Ainda segundo
Azevedo, o acesso a serviços de cuidados paliativos e a medicamentos para
controle de dor e outros sintomas no ambiente domiciliar atualmente é limitado
em todos os níveis de assistência a saúde. Existem muitas pessoas que não estão
recebendo o tratamento devido e, por isso, morrem sentindo dor ou falta de ar
por causa de legislações ultrapassadas para controle de medicamentos que são
rigorosas demais.
Testamento Vital
Ainda há, segundo
Azevedo, pouca divulgação sobre as chamadas “diretivas avançadas de vontade”,
também conhecida como Testamento Vital. O documento permite que qualquer indivíduo,
maior de idade e plenamente consciente, tenha possibilidade de definir junto ao
seu médico os limites terapêuticos a serem adotados em uma fase terminal, por
meio do registro expresso do paciente.
Com a diretiva, o
geriatra explica que as pessoas podem escolher não serem submetidas a
tratamentos extraordinários de manutenção da vida na fase final de doenças como
demência, insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica ou câncer,
quando já não existe possibilidade de reversão do quadro. Mas ressalta que o
cuidado deve continuar até o momento da morte, com ênfase no controle dos
sintomas e na resolução de pendências. “A pessoa não é abandonada jamais e o
foco da intervenção passa a ser o seu conforto”, pondera.
Considerado um passo
importante na consolidação dos preceitos dos cuidados paliativos, o testamento
está previsto na Resolução 1.995, do Conselho Federal de Medicina (CFM), no
Diário Oficial da União (D.O.U.), de agosto de 2012.
Fonte – Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG
Fonte para o Blog: http://www.cursodavida.com.br/direitos-2/caso-david-bowie-motiva-reflexao-sobre-a-finitude-da-vida.html
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