O Brasil está passando por uma grande mudança na estrutura etária. A cada ano
cresce o número de pessoas com mais de 60 anos de idade e aumenta a proporção
de pessoas idosas sobre a população total. Em 1950 havia 2,6 milhões de idosos,
representando 4,9% da população brasileira. No ano 2000 havia 14,2 milhões de
idosos (8,1% da população). No ano 2040, o número de pessoas idosas deve chegar
ao montante de 54,2 milhões, alcançando 23,6% da população total do Brasil,
segundo estimativas da Divisão de População da ONU.
Uma das características que acompanha esse processo de envelhecimento é
o crescimento do superávit de mulheres na população idosa. Em 1950, o número de
homens idosos era de 1,18 milhão e o de mulheres era de 1,45 milhão (havia um
superávit de exatos 273 mil mulheres). Em 1980 a quantidade de homens de 60
anos e mais passou para 3,64 milhões e a quantidade de mulheres chegou a 4
milhões. Nesse ano, o superávit feminino ainda era relativamente pequeno e a
razão de sexo era de 91 homens para cada 100 mulheres entre a população idosa.
A estimativa da ONU para 2040 aponta um número de 23,99 milhões de
homens e 30,19 milhões de mulheres, uma diferença de 6,2 milhões de mulheres em
relação à população idosa masculina. A razão de sexo deve cair para 79 homens
para cada 100 mulheres entre a população idosa. Ou seja, nos próximos anos vai
crescer o excedente de mulheres em cada grupo etário do topo da pirâmide. Este
processo é conhecido como “feminização do envelhecimento”.
As estimativas das projeções populacionais do IBGE
(revisão 2013) confirmam o processo de feminização do envelhecimento. Para
2060, o IBGE estima um contingente de 33 milhões de homens idosos e 40,6
milhões de mulheres idosas, com superávit feminino de 7,6 milhões de mulheres.
Desse contingente majoritário, existe uma alta
proporção de mulheres idosas que moram sozinhas nos domicílios particulares
unipessoais ou moram em domicílios com outros parentes ou agregados, mas sem a
presença de um companheiro. Esse fato foi denominado no passado de pirâmide da
solidão. Mas como morar sozinho não significa ser solitário, o denominado
fenômeno da “pirâmide da solidão” deve vir escrito entre aspas, indicando
apenas a existência de um crescente número de mulheres idosas sem cônjuges.
Até o ano 2000 as mulheres idosas (aquelas nascidas
antes de 1940) tinham nível educacional, em média, menor do que o dos homens,
refletindo a discriminação de gênero existente na educação brasileira do
passado. Porém, o novo contingente de mulheres com mais de 60 anos tem revertido
a desigualdade de gênero, fazendo com que o nível de escolaridade do sexo
feminino atualmente seja maior do que o do sexo masculino também entre a
população idosa. Ou seja, as mulheres têm dado uma grande contribuição para
elevar o nível educacional do conjunto das pessoas do topo da pirâmide
populacional.
Um dos desafios do processo de feminização do envelhecimento é
possibilitar a criação de um espaço de convivência com o objetivo de motivar a
participação das mulheres idosas no convívio social, evitando o isolamento e
fortalecendo a autoestima e a autonomia feminina. A sociedade brasileira
precisa saber aproveitar o potencial das recém-chegadas à terceira idade e que
possuem altos níveis educacionais e ricas experiências de trabalho e de vida.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é
Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas
– ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail:
jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate,
20/01/2016
"As mulheres e o envelhecimento
populacional no Brasil, artigo de José Eustáquio Diniz Alves," in Portal
EcoDebate, 20/01/2016, http://www.ecodebate.com.br/2016/01/20/as-mulheres-e-o-envelhecimento-populacional-no-brasil-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.
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