A Gerontologia Social no Brasil
nasceu no Instituto Sedes Sapientiae. A participação de Elvira foi importante
para a criação do Departamento de Gerontologia na Sociedade Brasileira de
Geriatria, hoje, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
A profa.
Elvira foi uma das pioneiras de Gerontologia Social no Brasil. Uma grande perda
que deixou um legado importante para a o estudo do envelhecimento.
No dia 6 de janeiro de 2016 faleceu a Profa. Dra.
Elvira da Conceição Abreu e Mello Wagner. Elvira foi uma mulher extraordinária:
inteligente, dinâmica, batalhadora, sempre disposta a realizar um pouco mais
para a construção da Gerontologia Social no Brasil. Como praticamente não havia
livros e revistas publicados sobre a disciplina, escreveu textos e traduziu
artigos de revistas e livros especializados no exterior, preparando apostilas
para os cursos realizados no Sedes Sapientiae.
Sobre o conceito de velhice
Elvira - Como é que se sente na
velhice uma pessoa que vem de uma classe bastante desprotegida, que teve uma
gestação sem qualquer assistência, cuja infância foi toda perturbada no seu
crescimento biológico, psicológico e social? Como ela vai enfrentar o
envelhecimento? Certamente com muito medo, que vai estar presente desde muito
cedo na vida dela, porque em geral é um trabalhador empregado que vive sob a
ameaça constante de desemprego iminente ou vive mesmo desempregado.
Quando se aposenta, cresce a
insegurança na vida dessa pessoa por causa das condições em que se faz a
aposentadoria dentro da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que é
completamente diferente da aposentadoria do funcionário público ou do militar.
O funcionário público e o militar têm garantidos que o seu ganho de
aposentadoria vai ser exatamente o mesmo que a sua classe vai estar recebendo
durante o período produtivo. Na medida em que a sua classe vai tendo
equiparações salariais, os aposentados também vão sendo contemplados com as
mesmas equiparações. A mesma coisa não acontece com o empregado assalariado que
é a grande massa dos trabalhadores. Quando se aposenta, já sabe de antemão que
vai passar a receber pouco mais que a metade daquilo que recebia antes. Além
disso, vai sofrendo uma perda dos proventos de aposentado a cada ano que passa.
Sobre
as distorções da velhice
Elvira - A maioria das pessoas
acha que o envelhecimento implica necessariamente deterioração física e mental.
Mas isso depende muito do estilo de vida da pessoa. As pessoas que envelhecem
bem são as que se adaptam às modificações típicas da idade, à medida que percebem
como não são ágeis e nem tão resistentes. Elas sentem que precisam ir mudando a
sua maneira de viver, mas sentem também que devem continuar integradas na
sociedade.
As pessoas mais jovens, que não
têm contato com os mais velhos, fantasiam muito a respeito da velhice. Quando
têm um contato constante com os velhos da sua família, da vizinhança, do
ambiente de trabalho, formam uma ideia mais próxima e verossímil da velhice.
Têm condições de constatar que a maioria dos velhos são lúcidos, interessados,
capazes e desenvolvem uma espécie de sabedoria de vida. Esse contato dos jovens
com os mais velhos fornece um modelo positivo de envelhecimento que é uma
experiência extremamente valiosa para eles não temerem tanto a velhice.
Coloca-se também a questão para os próprios jovens: como eles estão se
preparando para lidar com a sua própria velhice? É preciso conscientizar que o
velho não é só o outro, ele está também no jovem. Com isso promove-se a
aproximação das gerações.
Sobre
a assistência deficiente
Elvira - Quando uma pessoa de
classe menos privilegiada sobrevive a uma idade mais avançada, continua vivendo
em geral com a sua família. Mesmo se a família não pode tomar conta dos seus
velhos como seria desejável, reluta e tenta ficar o máximo possível com seus velhos.
Somente procuram um asilo no caso em que não conseguem mais sustentar a
situação. No Brasil, os asilos são muito pouco numerosos e são sustentados por
colônias de descendentes de imigrantes estrangeiros, como por exemplo, os
italianos, os espanhóis, os ingleses, os alemães, os japoneses, os árabes etc.
Ou então são sustentados por grupos religiosos que constroem e sustentam os
abrigos para idosos.
O governo brasileiro não tem
realmente participação efetiva; quando apresenta alguma iniciativa, trata-se somente
de algum convênio com esses asilos de entidades civis e religiosas. O governo
mesmo não constrói e nem sustenta os asilos. Em nosso país, o Estado não dá a
devida importância ao aspecto social. Não cuida de seu cidadão, tanto quanto
seria necessário, com programas de saúde, de educação, de lazer, de trabalho.
Enfim, o Estado não dá amparo ao trabalhador, que constitui a maior parte da
população, para que tenha um nível de vida digno ou pelo menos o mínimo
indispensável para viver.
Podemos passar ao extremo
oposto dos asilos, que são as chamadas casas de repouso destinadas às classes
altas. No momento, elas também não oferecem absolutamente nada daquilo que
prometem ou pretendem oferecer. Na realidade, as casas de repouso são lugares
onde as famílias mais abastadas encostam os seus idosos e onde não existe um
atendimento adequado. Nos asilos, costumam utilizar muito a argumentação de que
não conseguem pagar os profissionais necessários como médico geriatra,
terapeuta ocupacional, psicólogo, assistente social, fisioterapeuta e outros,
que dariam uma assistência adequada. Mas essas casas de repouso, que cobram
bastante caro e lidam com pessoas que têm recursos, também não possuem uma
equipe multiprofissional na maioria dos casos, com muito poucas exceções. Então
perguntamos por que as casas de repouso não contratam os profissionais?
Obviamente, a resposta para nós é que a maioria das casas de repouso tem um
objetivo comercial e não estão interessadas no atendimento adequado ao idoso.
De modo geral, predomina o
ponto de vista de que se a pessoa está bem acomodada num local, tem alimentação
e alguma assistência médica, o idoso já estaria bem. Consideram-se somente as
necessidades de atendimento físico, as outras necessidades não são pensadas
como necessidades das pessoas que envelhecem. A necessidade de lazer, de
contato afetivo, de colocar um significado de vida, de ter atividades nas quais
possa se sentir integrado na sociedade. Sem isso, a pessoa idosa vai perdendo o
ânimo de vida que vem dos contatos e de se sentir realmente participante. No
entanto, este objetivo pode ser obtido através de um trabalho preventivo com as
pessoas, na medida em que envelhecem, e da assistência efetiva de uma equipe
multiprofissional preparada dentro dos conhecimentos e conceitos da
Gerontologia.
Sobre
a formação em Gerontologia
Elvira - Ultimamente tem
aumentado o interesse dos profissionais pelo curso de Gerontologia do Instituto
Sedes Sapientiae. Alguns deles já estão trabalhando com entidades civis ou
órgãos públicos. Às vezes, estes trabalhos não se restringem aos velhos
internados nos asilos ou hospitais, mas abrangem a situação ideal que é a de os
idosos permanecerem integrados e participantes na sociedade.
Em geral, os nossos alunos são
psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais de Saúde. Mas o nosso
curso está aberto aos profissionais de todas as áreas, sem restrições. Os
arquitetos, advogados, engenheiros, jornalistas, economistas, entre outros,
raramente se inscrevem no nosso curso e seria desejável que se inscrevessem
mais ainda. Os profissionais de todas as áreas profissionais e científicas têm
uma contribuição a dar na Gerontologia a partir de sua área específica.
Nós procuramos dar um
embasamento teórico de Gerontologia que abrange os aspectos físicos,
psicológicos e sociais dos processos de envelhecimento. Além das aulas,
procuramos colocar os alunos em contato direto com as pessoas que envelhecem,
com as famílias desses idosos e com as entidades que lidam com eles.
Não temos somente a proposta de
dar informações teóricas sobre os processos de envelhecimento, também
procuramos trabalhar a própria imagem e atitude perante a velhice que os alunos
possuem. Consideramos uma condição básica que o profissional se veja, em
primeiro lugar, como uma pessoa frente ao envelhecimento que não é só do outro
idoso, mas dele também. Pedimos para os alunos desenvolverem trabalhos que os
coloquem diretamente em contato com situações envolvendo o envelhecimento, e
que são discutidos e elaborados em conjunto, nas supervisões. São trabalhos
orientados, práticos, voltados para a nossa realidade e, portanto, eles podem
examinar suas próprias reações e atitudes.
Fonte:http://www.portaldoenvelhecimento.com/finitude/item/3900-profa-elvira-wagner-mestra-muito-querida
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