Necessário é que conversemos sobre o viver e o morrer. Reproduzir este artigo de Denise Oncken é trazer informações úteis, que muitas vezes nos recusamos a ler e reconhecer a utilidade.
Escrito por Denise Oncken(*)
A reflexão sobre a
longevidade traz inúmeras questões, até agora mal resolvidas, relativas a
aspectos financeiros, enfermidades crônicas e/ou degenerativas, alterações
emocionais, mudanças nos papéis sociais, etc. Surge a necessidade urgente da
educação gerontológica nas instituições que abrigam seres humanos, como a
família, a escola, os locais de trabalho e as igrejas, na mídia e nas políticas
sociais, transformando conceitos e significados relativos à velhice.
Quando
a doença e a morte atingem um indivíduo idoso dentro de um núcleo familiar onde
não há o conhecimento sobre o processo de envelhecimento e a morte, o
sofrimento é sempre acompanhado de sentimentos como desamparo e solidão.
Desde
que, a partir do século XX, as pessoas passaram a viver mais tempo, torna-se
necessário o conhecimento sobre o processo de envelhecimento, porque é através
dele que aprendemos a lidar com as modificações que as limitações impostas pela
longevidade apresentam.
A
reflexão sobre a longevidade traz inúmeras questões, até agora mal resolvidas,
relativas a aspectos financeiros, enfermidades crônicas e/ou degenerativas,
alterações emocionais, mudanças nos papéis sociais, etc. Surge a necessidade
urgente da educação gerontológica nas instituições que abrigam seres humanos,
como a família, a escola, os locais de trabalho e as igrejas, na mídia e nas
políticas sociais, transformando conceitos e significados relativos à velhice,
proporcionando o planejamento de vida na longevidade, apontando para o
exercício da cidadania e evitando que o envelhecer se torne um período de
sofrimento, isolamento e tristeza.
Conhecendo
o processo de envelhecer, passamos a entender que a vida é um período finito,
pois o envelhecimento em si apresenta uma perspectiva de morte. A grande
maioria das pessoas não reflete sobre a morte, pois considera que “ela não faz
parte da vida”. No entanto, aprendemos na escola, desde tenra idade, que “todo
ser vivo nasce, cresce, desenvolve-se e morre”. Então ela faz parte da vida,
mas procuramos evitar pensar no fim, pois a morte é um tabu, um tema que traz
constrangimento e sofrimento.
Assim
como deve haver educação para a longevidade, também é necessário que se pense a
morte em diversos locais e instituições, como escolas, hospitais, meios de
comunicação, incluindo o tema também na formação dos profissionais de saúde
para que, em grupos multidisciplinares, cuidadores e familiares também possam
ser acolhidos e orientados nos cuidados ao paciente portador de doenças
crônicas e/ou em fase terminal.
A
velhice pode ser um tempo de se preparar para a morte com maior reflexão, pois
a morte chega onde houve vida, e a morte de um idoso revela uma vida cheia de
experiências, relações, alegrias, tristezas, frustrações, perdas, ganhos,
aprendizados. O desenvolvimento tecnológico possibilita o prolongamento da
vida, e este pode ser um período de novas experiências e aprendizados, mais
tempo para o lazer e para estar ao lado de quem amamos. Mas, nem sempre
encontramos qualidade de vida nesse período.
O
prolongamento da vida, acompanhado de situações como as doenças
crônico-degenerativas, exige cuidados abrangentes, que vão muito além do
tratamento farmacológico, para que seja mantida a qualidade de vida não só do
paciente, mas também de familiares e cuidadores. Nesse sentido, surgem os
Cuidados Paliativos que promovem essa qualidade de vida quando do enfrentamento
de doenças que ameacem o viver, prevenindo e aliviando o sofrimento.
Através
de uma equipe multidisciplinar, os cuidados paliativos visam manter a qualidade
de vida e a dignidade humana durante o decorrer da doença, na terminalidade da
vida, na morte e no período de luto, promovendo o alívio da dor e outros
sintomas, considerando a morte como um processo normal da vida, oferecendo suporte
para que o paciente viva o mais ativamente possível até sua morte, e amparando
os familiares durante a doença e no enfrentamento do luto.
Os
Cuidados Paliativos têm crescido no Brasil desde a década de 1980, mas ainda há
necessidade de formação profissional e humanização no atendimento para que as
necessidades no país possam ser atendidas. Não existe um Programa Nacional para
assistência à terminalidade da vida e a medicina atualmente tem seu maior foco
em questões relacionadas à cura e à tentativa de recuperação de pacientes que
apresentam doenças sem possibilidade de cura. Prolonga-se o processo de morrer,
ignorando o sofrimento do paciente e seus familiares.
Até
o momento, são poucos os indivíduos que tem acesso a esses conhecimentos e
serviços, transformando a vida e a morte da grande maioria em dúvidas,
angústias e sofrimento. A humanização em Medicina e em outras profissões da
área da saúde está sendo acompanhada pela conscientização do ser integral que
não se resume a uma doença a ser curada, a uma vida a ser prolongada a qualquer
custo. O respeito ao ser no fim da vida é uma meta a ser atingida, exigindo
formação adequada dos profissionais envolvidos no atendimento, para que também
saibam orientar os pacientes e familiares em questões relativas aos seus
direitos e amenizando o sofrimento durante o período de doença, morte e
luto.
(*)Denise
Oncken – Terapeuta Ocupacional Autônoma. Diretora Voluntária da Casa dos
Velhinhos de Ondina Lobo – ILPI. Email: denioncken@ig.com.br
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