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Longevidade no Brasil 'é quase um milagre'

Alexandre Kalache
Reprodução/YouTube
Por / Atualizado
RIO - O Dia Internacional do Idoso, celebrado nesta quinta-feira, é uma data para promover a qualidade de vida na terceira idade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse grupo, que hoje representa 12% da população brasileira, passará a 30% em 2050, saltando de 24,4 milhões a 70 milhões de pessoas. Mas, para o presidente do Centro Internacional para Longevidade no Brasil, braço da OMS, é “quase um milagre” o Brasil ter conseguido aumentar a expectativa de vida da sua população, já que a maioria dos brasileiros não tem acesso a condições viver mais com qualidade.
O envelhecimento saudável também é responsabilidade de cada um individualmente? O brasileiro cuida da saúde como deveria?
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Como comprar comida saudável e colorida se a população brasileira só tem dinheiro para o cardápio branco, com arroz, farinha e óleo? Como estas pessoas farão exercícios físicos se trabalham onze horas por dia e ainda encaram o transporte público para chegar em casa? Vai correr na praça? Que praça? Onde esse cara mora não tem lugar para lazer. A responsabilidade de envelhecer bem é algo complexo, que envolve educação até para que as pessoas consigam projetar o futuro. O brasileiro é imediatista porque tem de pensar em como pagar a conta do final mês. Tem mais dificuldade para pensar nos anos à frente. Além disso, um terço da população tem dificuldade de ler e escrever e não saberá fazer escolhas saudáveis. É preciso mais sensibilidade social.
Como o Brasil está em comparação com os países vizinhos em relação à saúde dos idosos?
Segundo dados da OMS, no Brasil, a expectativa de vida de um bebê nascido hoje é de 75 anos, com cerca de dez anos com saúde debilitada. Em países vizinhos, como Argentina, Chile, Costa Rica e outros, a expectativa de vida é de 78 a 80 anos, com sete ou oito anos com doenças. Estamos pior. E se compararmos com países desenvolvidos, como Japão e Alemanha, pior ainda. Nesses lugares, as pessoas vivem até mais do que 80 anos e têm menos anos “extras” com saúde debilitada. Estes países enriqueceram primeiro e depois envelheceram. É quase um milagre o Brasil ter ganhado este gap de longevidade. Quando eu nasci, há 70 anos, a expectativa de vida era de cerca de 43 anos.
Qual a novidade do Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde, da OMS, que afirma que a quantidade de pessoas com mais de 60 anos deverá duplicar no mundo até 2050?
Não é uma novidade em relação ao conteúdo. É em relação ao foco. Este é o primeiro relatório da OMS sobre a longevidade, é a primeira vez que o órgão olha com esta atenção para o idoso. Os idosos são uma realidade no século atual. E a OMS está dizendo aos seus 193 países membros: acordem! É preciso pensar no idoso, temos de dar ênfase a eles. Porque o envelhecimento está chegando rápido.
Na sua opinião, o que é preciso fazer no caso do Brasil?
É preciso tornar os lugares em que vivemos ambientes amigáveis para as pessoas mais velhas, realinhar sistemas de saúde às necessidades dos idosos e que o governo desenvolva sistemas de cuidados de longo prazo que possam reduzir o uso inadequado dos serviços de saúde. O Brasil precisa dar atenção à educação. Incluo aqui mudanças nas faculdades de medicina, na formação educacional dos médicos. Hoje em dia eles estudam como se estivessem no século passado. Por que tantos especialistas em reprodução, se cada vez mais nascem menos bebês? Porque se estuda tanto sobre criança, se a população está cada vez mais velha e tem mais cachorros do que bebês nos lares atuais? Precisamos de melhores cardiologistas, ortopedistas, geriatras e, de uma forma geral, que os médicos foquem nas doenças crônicas e que sejam antenados com o envelhecimento.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/longevidade-no-brasil-quase-um-milagre-17653475#ixzz3nKDGWTQZ
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