O que mais preocupa
o presidente do Colégio de Economistas português não é a economia, mas a
demografia.
“O maior desafio que vai enfrentar nas próximas décadas o Governo
de Portugal é o envelhecimento da população”, diz Rui Leão Martinho. Portugal, onde se realizam
eleições neste domingo, é o sexto país mais velho do mundo. Em 40 anos, a taxa
de natalidade passou de ser a mais alta da Europa à mais baixa, de acordo com
dados do centro de estatísticas europeias Eurostat. No ano passado, nasceram
7,9 filhos por cada 1.000 habitantes. Essa taxa na Espanha é de 9,1.
Se a tendência continuar, Portugal chegará a 2060 com 8,5 milhões de
habitantes, segundo o Instituto Nacional de Estatística português; mas se
continuar a atual tempestade perfeita de corrente emigratória somada à baixa
taxa de natalidade, o país cairá para 6,3 milhões de cidadãos, quatro milhões
menos do que hoje. A população, além disso, terá envelhecido consideravelmente,
com o consequente impacto nos gastos com saúde e no sistema de aposentadorias.
Um país insustentável.
Embora o escritor
Fernando Dacosta lembre que Portugal foi mais poderoso quando tinha três
milhões de habitantes, esquece o pequeno detalhe de que naquele tempo o Estado
não tinha que pagar aposentadorias, escolas ou segurança social. Hoje são 3,6
milhões de aposentados, 35% de sua população. Na Espanha, representam 19,5%.
O envelhecimento da
população ameaça o Estado
de Bem-estar. A solução para o economista Martinho é o
“envelhecimento ativo”. “Temos de mudar a mentalidade dos empresários”,
declarou à rádio TSF. “Se tiver condições físicas e mentais, o aposentado que
quiser continuar trabalhando deve continuar”. A demógrafa Maria João Valente
Rosa coincide: o problema não é a demografia, é a inadequação da sociedade ao
ritmo das novas dinâmicas. Por exemplo, Portugal tem menos crianças do que
nunca, mas os mesmos professores de sempre.
O envelhecimento
da população é um problema da Europa e dos países desenvolvidos em
geral, mas ao contrário de outros países, Portugal não atrai imigrantes; ao
contrário, o português emigra. No ano passado, perdeu 1% de sua população, e no
anterior, também. Na década de sessenta, os portugueses emigravam para
trabalhar como porteiros em Paris, hoje são os enfermeiros e médicos de
hospitais de Londres.
61% dos migrantes não estava
desempregada em Portugal, apenas queria uma melhor projeção profissional
Portugal será o
país com menos jovens: em 2050, apenas 11,5% da população terá menos de 15
anos. E também será o mais velho: 19,9% da população tem agora mais de 65 anos,
um ponto a mais do que na Espanha, mas em 2080 já será de 35,7% (oito pontos
menos que do outro lado da fronteira).
No final da atual
legislatura, o Governo aprovou alguns
incentivos para a natalidade, ampliando licenças para pais e redução
de impostos. Alguns municípios também reduziram o Imposto sobre Bens
Imobiliários para casais com filhos. Mas os problemas demográficos não são
resolvidos com um decreto-lei. O português não está disposto a ficar em seu
país a qualquer preço ou de qualquer forma. Não tem a ver tanto o desemprego
(12,4% e que afeta 30% dos jovens), e mais a ver com os baixos salários. Em uma
economia global, para a Inglaterra é mais barato contratar enfermeiros
portugueses que formar seus próprios. Um salário até quatro vezes maior é
irresistível.
Evasão de cérebros
“O dinheiro que a
Europa nos emprestou estamos devolvendo na forma de mão de obra qualificada”,
diz Luísa Cardeira, professora da Universidade de Lisboa e coautora do estudo
Fuga de cérebros: a mobilidade acadêmica e a emigração portuguesa qualificada.
Em um de seus atos, o socialista António Costa foi cercado por jovens usando
camisetas que diziam “Não quero emigrar”.
Se governar, Costa
prometeu recuperar essa massa cinzenta, mas não disse como. Não é fácil, o
atual Governo promoveu em março o programa VEM, que Cardeira vê com muito
ceticismo. “59% dos que vão embora são solteiros, por isso é fácil que formem
família em seu novo país”.
O primeiro-ministro
e candidato, o conservador Pedro Passos Coelho, recebeu críticas quando tentou
explicar as vantagens que os jovens tinham ao ir para o estrangeiro. “O que eu
disse é que não podemos estigmatizar aqueles que, não tendo oportunidades aqui,
procuram encontrar emprego em outras economias”, disse ele. “Quero que o país
cresça a um ritmo que possa oferece trabalho a todos os jovens”, disse.
Atualmente, 30% estão desempregados; por enquanto, 1% da população parte a cada
ano; nesse momento morrem mais portugueses que nascem.
J.M. Lisboa 4 OCT 2015 - 15:20 BRT
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/02/internacional/1443805027_476881.html
Leia também: Portugal lança um plano de choque para elevar a natalidade
J.M. Lisboa 4 OCT 2015 - 15:20 BRT
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/02/internacional/1443805027_476881.html
Leia também: Portugal lança um plano de choque para elevar a natalidade
Mais um teste .
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